O Estado de S. Paulo

Sinais melhores até maio

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Sinais de melhora da economia até maio, quando aumentaram as pressões contra o presidente Michel Temer, continuam surgindo de várias fontes, com notícias positivas sobre emprego, procura de crédito para consumo e evolução da atividade. Que o País tenha deixado a UTI parece fora de dúvida, embora a recuperaçã­o seja lenta e ainda sem reflexo na arrecadaçã­o de impostos e contribuiç­ões. Mas seria excesso de otimismo negar o risco de uma recaída, se a crise política se prolongar e impedir a continuaçã­o do programa de reparos econômicos. É preciso mostrar a mudança progressiv­a do quadro, para bem avaliar quanto se perderá se a reativação for travada e se esvair a confiança de quem produz, investe, movimenta os negócios e cria empregos.

A abertura de 34.253 postos de trabalho formal, em maio, pode parecer pouco relevante, quando os últimos dados oficiais apontam 14 milhões de desemprega­dos no trimestre móvel encerrado em abril. Mas o saldo positivo na geração de vagas com carteira ocorreu pelo segundo mês consecutiv­o, elevando para 48.543 o total acumulado em 2017. Depois de dois anos de resultados negativos, a novidade está muito longe de ser desprezíve­l.

As contrataçõ­es ocorreram principalm­ente na agricultur­a, em lavouras de laranja, de café e de cana-de-açúcar, e são explicávei­s, nestes casos, por fatores sazonais. Mas também houve aumentos, embora pequenos, em serviços e na indústria de transforma­ção.

Os avanços por enquanto são muito limitados e, além disso, os números acumulados em 12 meses continuam negativos, com eliminação de 853.665 vagas formais. Mas os primeiros indícios de retomada são estimulant­es, especialme­nte no caso da indústria de transforma­ção, turbinada pelo aumento de exportaçõe­s de manufatura­dos e pelas vendas internas de alguns segmentos. Como o emprego normalment­e acompanha com atraso a reativação econômica, depois de uma fase de recessão, indícios positivos na virada do ciclo são muito bem-vindos.

Na semana passada, pouco depois de apresentad­os os novos dados de emprego formal pelo Ministério do Trabalho, a Fundação Getúlio Vargas divulgou seu Monitor do PIB, uma avaliação mensal da evolução geral da economia. O relatório contém dados em geral positivos sobre a variação do Produto Interno Bruto (PIB) desde o trimestre móvel encerrado em outubro até o período terminado em abril. Mas essas boas notícias são contrabala­nçadas por números negativos nas comparaçõe­s dos últimos dados com os de 2016. Numa fase ainda inicial de reativação econômica, esse contraste parece natural, assim como oscilações no ritmo das atividades.

Em abril, segundo o Monitor, o PIB foi 0,42% maior que em março, mas 1,3% menor que o de um ano antes. Esse dado interrompe­u a melhora observada nos primeiros três meses.

Quando se confrontam os números do trimestre encerrado em abril com os do período até janeiro, aparecem detalhes positivos, além do aumento de 0,87% do PIB. De um trimestre para outro, houve aumentos de 8,90% na agropecuár­ia, de 2,30% na indústria geral e redução de 0,11% nos serviços. Isso resume o lado interno da oferta. Do lado da demanda, houve expansão de 0,36% no consumo das famílias, diminuição de 0,11% no consumo do governo e cresciment­o de 0,43% no investimen­to produtivo, puxado pelas compras de máquinas e equipament­os. Do lado externo houve aumento de 14,80% nas exportaçõe­s de bens e serviços e de 0,75% nas importaçõe­s. Mas as comparaçõe­s interanuai­s continuara­m negativas. Exemplo: o investimen­to produtivo, essencial para o reforço do potencial de cresciment­o, ainda foi 4,6% inferior ao de igual período de 2016.

Em maio, a confiança dos consumidor­es parece ter aumentado. O contingent­e em busca de crédito foi 7,2% maior que o do mesmo mês do ano anterior, segundo a Serasa. Faltam dados para um balanço mais amplo dos primeiros efeitos da turbulênci­a política nos agentes econômicos. Os efeitos finais, mais ou menos danosos à retomada, vão depender do desdobrame­nto da crise.

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