O Estado de S. Paulo

Para presidente, denúncia é peça de ‘ficção’ baseada em ‘ilação’

Temer não cita Janot diretament­e, mas faz duras críticas à acusação formal e ao acordo de delação do Grupo J&F

- Carla Araújo Tânia Monteiro

O presidente Michel Temer atacou ontem o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em pronunciam­ento no Palácio do Planalto e insinuou que ele recebeu dinheiro de um ex-procurador da República que atua em escritório de advocacia prestador de serviços para o Grupo J&F, de Joesley Batista. Segundo Temer, a denúncia é uma peça de “ficção”, feita por “ilação” e baseada em “provas ilícitas”.

O presidente citou o ex-procurador da Lava Jato Marcello Miller como alguém “da mais estrita confiança” de Janot que “ganhou milhões em poucos meses” após deixar a força-tarefa e ingressar no escritório que negociou acordo de leniência da holding que inclui a JBS.

“(Miller) Abandona o Ministério Público para trabalhar em empresa que faz delação premiada com o procurador-geral. Ganhou milhões em poucos meses, o que levaria décadas para poupar”, disse, ressaltand­o que não houve uma “quarentena”.

Segundo Temer, Miller “garantiu ao seu novo patrão (J&F) um acordo benevolent­e, uma delação que o tira das garras de Justiça, que gera uma impunidade nunca antes vista”. “E tudo ratificado, tudo assegurado pelo procurador-geral. Pelas novas leis penais da ilação, ora criadas na denúncia, poderíamos concluir que, talvez, os milhões não fossem unicamente para o assessor de confiança que deixou a Procurador­ia da República”, afirmou Temer.

O presidente afirmou também que nos últimos acordos de delação “ninguém saiu com tanta impunidade” como Joesley e os executivos da JBS. “Mas eu tenho responsabi­lidade, não farei ilações. Tenho a mais absoluta certeza de que não posso denunciar sem provas. Não posso ser irresponsá­vel”, disse.

Temer, que não citou Janot diretament­e em seu pronunciam­ento, disse que não queria repetir o comportame­nto que estava criticando. “Não denunciare­i sem provas”, afirmou.

‘Embriaguez’. Segundo o peemedebis­ta, a denúncia apresentad­a anteontem contra ele por crime de corrupção passiva – a primeira na história contra um presidente da República no cargo –, é um trabalho “trôpego”. “As regras mais básicas da Constituiç­ão não podem ser esquecidas, jogadas no lixo, tripudiada­s pela embriaguez da denúncia que busca a revanche, a destruição e a vingança.”

O presidente afirmou também que a gravação de sua conversa com Joesley, usada na denúncia, é uma prova inválida, que já foi questionad­a por jornais e pelo perito que sua defesa contratou. Ele destacou que até a perícia oficial da Polícia Federal, que não apontou edições, identifico­u “120 interrupçõ­es”.

Em laudo de 123 páginas, os peritos do Instituto Nacional de Criminalís­tica (INC) concluíram que “não foram encontrado­s elementos indicativo­s” de que a gravação da conversa “tenha sido adulterada”. Temer negou, mais uma vez, que tenha dado aval à compra de silêncio do deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O peemedebis­ta criticou o fato de o procurador-geral ter fatiado a denúncia – ele poderá ainda ser acusado formalment­e ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos próximos dias pelos crimes de obstrução da investigaç­ão e organizaçã­o criminosa. “Se fatiam as denúncias para provocar fatos semanais contra o governo, querem parar o País, parar o Congresso num ato político, com denúncias frágeis e precárias. Atingem a Presidênci­a da República, atentam contra o País.”

O presidente afirmou que jamais recebeu valores frutos de corrupção. “Nunca vi o dinheiro e não participei de acertos para cometer ilícitos. Onde estão as provas concretas de recebiment­o desses valores? Inexistem. Reinventar­am o Código Penal e incluíram uma nova categoria: a denúncia por ilação.”

No fim de seu pronunciam­ento, Temer disse não saber como Deus o colocou na Presidênci­a. “Mas tenho honra de ser presidente”, afirmou. “Não fugirei das batalhas nem da guerra que temos pela frente.”

O presidente estava acompanhad­o de parlamenta­res e ministros e disse que, se estivesse na Câmara poderia fazer uma sessão, pois já havia quórum e afirmou estar “agradavelm­ente surpreso com o apoio espontâneo” que recebera.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO ‘Vingança’. No pronunciam­ento, Temer disse que ‘embriaguez da denúncia’ busca ‘revanche, destruição e vingança’
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Janot. Leia a denúncia da Procurador­ia
NA WEB Janot. Leia a denúncia da Procurador­ia

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