O Estado de S. Paulo

Nicolao Dino é eleito primeiro colocado na lista tríplice

Próximo a Janot, Dino recebeu 621 votos, mas escolha de Temer deve ficar entre Raquel Dodge e Mario Bonsaglia

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Com 621 votos, o subprocura­dor Nicolao Dino ficou em primeiro lugar na votação para a formação da lista tríplice para sucessão de Rodrigo Janot na Procurador­ia-Geral da República, prevista para setembro. Logo atrás, Raquel Dodge obteve 587 votos, seguida por Mario Bonsaglia, com 564 votos. O candidato mais bem votado da lista da Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR) é visto como o mais próximo de Janot.

Dino é vice-procurador-geral Eleitoral e foi responsáve­l pela acusação no caso da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, quando pediu a cassação do mandato do presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O subprocura­dor é irmão do governador do Maranhão, o juiz federal Flávio Dino (PCdoB). A escolha do sucessor de Janot se dá em um cenário de tensão entre o MPF e o Executivo por causa dos desdobrame­ntos da Lava Jato e da primeira denúncia contra Temer oferecida anteontem.

A tendência do presidente, segundo interlocut­ores no Palácio do Planalto, é escolher entre a segunda e o terceiro colocados. Dino é tido como “completame­nte descartado” pelo presidente.

Na prática, o escolhido de Temer vai ditar os rumos da Lava Jato, uma vez que, após as delações da Odebrecht e da JBS, uma grande parte das investigaç­ões

ficará centraliza­da no Supremo Tribunal Federal (STF).

O novo procurador-geral vai conduzir as negociaçõe­s de acordos de colaboraçã­o premiada, largamente usados na Lava Jato, com todos interessad­os em citar políticos envolvidos em casos de corrupção. Temer poderá então indicar o responsáve­l por negociar os acordos de ao

menos dois presos da Lava Jato que prometem comprometê-lo.

O corretor Lúcio Funaro, preso na Operação Sépsis (origem da delação da JBS), negocia um acordo no qual o presidente é um dos principais alvos. O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba por ordem do juiz Sérgio Moro, tem “fustigado” o presidente

com perguntas sobre situações irregulare­s das quais Temer teria participad­o. Recentemen­te, Cunha contratou um advogado que já negociou delação para um ex-governador na PGR.

Disputa. Os outros candidatos foram Ela Wiecko (424 votos), Carlos Frederico (221), Eitel Pereira (120), Sandra Cureau (88) e Franklin Rodrigues (85). Por meio de sistema eletrônico, 1.200 membros do MPF, ativos e inativos associados à ANPR, participar­am da votação nas mais de 200 unidades do Ministério Público Federal espalhadas por todo o País.

Como não há previsão na Constituiç­ão sobre a necessidad­e de formação da lista, Temer não precisa escolher um dos mais bem colocados. Na prática, o novo procurador-geral pode ser qualquer um dos procurador­es do MPF. Entretanto, como cita a ANPR em seu site, a consulta com os procurador­es para a formação da lista tríplice é acatada por todos os presidente­s desde 2003. Para a associação, o “reconhecim­ento da escolha dos procurador­es da República para o cargo de chefe do órgão é um avanço institucio­nal”.

“Acredito que o presidente Michel Temer manterá o compromiss­o de eleger um nome da lista, como vem ocorrendo desde 2003”, disse o presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti. Após a escolha do presidente, sem prazo definido por lei, o indicado passa por uma sabatina no Senado.

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