Rota mata jovem na Favela do Moinho e moradores protestam
Ação na região central visava a combater o tráfico; PM também fala em troca de tiros, mas vizinhos negam
Uma operação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da Polícia Militar paulista, terminou com a morte de um jovem de 18 anos na manhã de ontem na Favela do Moinho, região central. A corporação alega que atuava contra suspeitos de tráfico de drogas, roubos de carro e celulares, quando houve uma “troca de tiros” e a vítima foi atingida.
A polícia não informou as circunstâncias da abordagem, mas disse tê-lo socorrido para a Santa Casa de Misericórdia. O hospital disse em nota que desde o início do atendimento o paciente estava sem sinais vitais. “Na entrada do pronto-socorro foi constatado o óbito.”
Leandro de Souza Santos, de 18 anos, teria corrido ao ver a polícia, buscando proteção na casa de uma vizinha. A polícia entrou no local e o acertou enquanto o jovem estava na cozinha. No fim da tarde de ontem, o local ainda tinha marcas de sangue e um martelo, cuja posse não foi informada. A Polícia Militar não informou se Santos era um dos alvos da operação e se com ele foi encontrado material ilícito. A dona da casa foi levada para prestar depoimento, mas após afirmar não ter visto o momento do óbito, acabou liberada.
A morte despertou a reação da comunidade, que montou barricadas pela vielas, tentando impedir qualquer avanço policial. No chão, horas após a operação, ainda podiam ser vistos cápsulas de bala de borracha usadas para tentar dispersar o protesto.
A manifestação, no entanto, só cresceu. No fim da manhã, moradores foram ao Viaduto Engenheiro Orlando Murgel, sobre a comunidade, interrompendo o trânsito; a polícia teve de acionar reforço. Instantes antes, o tráfego de trens pela linha férrea que corta a favela já havia sido interrompido.
Parte do serviço da Linha 8Diamante da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), entre as Estações Júlio Prestes e Barra Funda, parou por cerca de quatro horas. O serviço foi retomado totalmente às 15h15. Com rostos cobertos, moradores empunharam cartazes classificando a ação como “assassina” e pediram “justiça pelo morador morto”.
A jovem Maria Vitória Oliveira, de 18 anos, que está grávida de oito meses, afirmou ter sido agredida por um dos policiais que participavam da ação no local. “Disse que ia chamar a reportagem aqui para ver o que estava acontecendo e um deles me deu um empurrão. Eu caí, bati a cabeça na tampa da fossa e desmaiei”, relatou. Ela contou ter sido levada para um hospital próximo e ressaltou que ainda estava com dor na nuca e nas costas.
Indignação. A família de Leandro demonstrou indignação quando algumas viaturas da corporação se reaproximaram da entrada da favela no início da noite de ontem. O irmão da vítima, Lucas Santos, teve de ser contido por amigos e familiares após demonstrar a intenção de ir até os policiais, que estavam postados.
O local já havia sido alvo de uma operação da Polícia Civil no dia 21 de maio, quando o Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) foi à favela com objetivo de cumprir mandados de prisão contra suspeitos de tráfico. A investigação apontava que era na área que eram tomadas decisões sobre o abastecimento para a Cracolândia, cujo “fluxo” se localizava a cerca de um quilômetro dali.