O Estado de S. Paulo

Rota mata jovem na Favela do Moinho e moradores protestam

Ação na região central visava a combater o tráfico; PM também fala em troca de tiros, mas vizinhos negam

- Marco Antônio Carvalho

Uma operação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da Polícia Militar paulista, terminou com a morte de um jovem de 18 anos na manhã de ontem na Favela do Moinho, região central. A corporação alega que atuava contra suspeitos de tráfico de drogas, roubos de carro e celulares, quando houve uma “troca de tiros” e a vítima foi atingida.

A polícia não informou as circunstân­cias da abordagem, mas disse tê-lo socorrido para a Santa Casa de Misericórd­ia. O hospital disse em nota que desde o início do atendiment­o o paciente estava sem sinais vitais. “Na entrada do pronto-socorro foi constatado o óbito.”

Leandro de Souza Santos, de 18 anos, teria corrido ao ver a polícia, buscando proteção na casa de uma vizinha. A polícia entrou no local e o acertou enquanto o jovem estava na cozinha. No fim da tarde de ontem, o local ainda tinha marcas de sangue e um martelo, cuja posse não foi informada. A Polícia Militar não informou se Santos era um dos alvos da operação e se com ele foi encontrado material ilícito. A dona da casa foi levada para prestar depoimento, mas após afirmar não ter visto o momento do óbito, acabou liberada.

A morte despertou a reação da comunidade, que montou barricadas pela vielas, tentando impedir qualquer avanço policial. No chão, horas após a operação, ainda podiam ser vistos cápsulas de bala de borracha usadas para tentar dispersar o protesto.

A manifestaç­ão, no entanto, só cresceu. No fim da manhã, moradores foram ao Viaduto Engenheiro Orlando Murgel, sobre a comunidade, interrompe­ndo o trânsito; a polícia teve de acionar reforço. Instantes antes, o tráfego de trens pela linha férrea que corta a favela já havia sido interrompi­do.

Parte do serviço da Linha 8Diamante da Companhia Paulista de Trens Metropolit­anos (CPTM), entre as Estações Júlio Prestes e Barra Funda, parou por cerca de quatro horas. O serviço foi retomado totalmente às 15h15. Com rostos cobertos, moradores empunharam cartazes classifica­ndo a ação como “assassina” e pediram “justiça pelo morador morto”.

A jovem Maria Vitória Oliveira, de 18 anos, que está grávida de oito meses, afirmou ter sido agredida por um dos policiais que participav­am da ação no local. “Disse que ia chamar a reportagem aqui para ver o que estava acontecend­o e um deles me deu um empurrão. Eu caí, bati a cabeça na tampa da fossa e desmaiei”, relatou. Ela contou ter sido levada para um hospital próximo e ressaltou que ainda estava com dor na nuca e nas costas.

Indignação. A família de Leandro demonstrou indignação quando algumas viaturas da corporação se reaproxima­ram da entrada da favela no início da noite de ontem. O irmão da vítima, Lucas Santos, teve de ser contido por amigos e familiares após demonstrar a intenção de ir até os policiais, que estavam postados.

O local já havia sido alvo de uma operação da Polícia Civil no dia 21 de maio, quando o Departamen­to de Prevenção e Repressão ao Narcotráfi­co (Denarc) foi à favela com objetivo de cumprir mandados de prisão contra suspeitos de tráfico. A investigaç­ão apontava que era na área que eram tomadas decisões sobre o abastecime­nto para a Cracolândi­a, cujo “fluxo” se localizava a cerca de um quilômetro dali.

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NEWTON MENEZES/FUTURA PRESS Ocupação. Em maio, a área já havia sido foco de operação

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