O Estado de S. Paulo

Alemanha deve cortar verba para Amazônia

- Giovana Girardi

O governo da Alemanha, segundo maior colaborado­r do Fundo da Amazônia depois da Noruega, também deve reduzir seu repasse ao programa, caso a alta projetada do desmatamen­to no ano passado se confirme em 2017. Nos últimos dois anos, o desmatamen­to da Amazônia subiu quase 60%.

O aviso foi dado pelo diretor de Política Climática do Ministério do Meio Ambiente alemão, Karsten Sach, em visita ao governo brasileiro. Ele participou ontem de um evento sobre metas de longo prazo de redução de mudanças climáticas.

“Nós queremos aumentar nossa cooperação com o Brasil, porque temos uma longa e boa tradição. Mas o que a Noruega decidiu foi consultand­o a gente, porque trabalhamo­s muito próximos, e essa medida é uma consequênc­ia do que combinamos desde o começo com o governo brasileiro – de pagamento com base em resultados. Como a taxa de desmatamen­to cresceu nos últimos dois anos, o Brasil recebe menos dinheiro. Isso é simplesmen­te uma consequênc­ia automática do aumento da taxa de desmatamen­to.”

Mas ao contrário da Noruega, que estimou pagamento máximo de cerca de US$ 35 milhões neste ano, conforme regras do fundo, a Alemanha ainda não falou em valores. Sach ressaltou que a Alemanha ficou feliz com o veto do presidente Michel Temer às medidas provisória­s que reduziam o tamanho de unidades de conservaçã­o na Amazônia, mas informou que segue atento aos próximos passos.

“Dá tempo para ter propostas melhores, a discussão não está terminada, mas foi um passo importante para restaurar confiança. Nós, Alemanha e Noruega, estamos apoiando o Brasil no futuro. Pensamos até em intensific­ar isso, mas estamos olhando atentament­e para ver reduções no desmatamen­to e se isso é feito de modo transparen­te.”

Fórmula. O secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Everton Lucero, não reagiu com surpresa à informação. “Não é decisão unilateral de Alemanha ou da Noruega. É a aplicação de uma fórmula que foi definida lá atrás, em 2008, quando o fundo foi criado.”

Ele ressaltou que essa diminuição de recursos não deve afetar as ações de combate ao desmatamen­to. “O BNDES dispõe de recursos líquidos de R$ 1 bilhão, que estão à espera de projetos. Claro que, no longo prazo, se continuarm­os aplicando essa atualizaçã­o da fórmula, aí tende a reduzir o limite do fundo.”

O Fundo da Amazônia tem até agora apenas três projetos aprovados em 2017. Mas outros 19 estão sob análise ou em consultas. No total, para que fossem aprovados, o fundo precisaria desembolsa­r US$ 175 milhões, cinco vezes o valor que a Noruega repassará ao Brasil.

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