O Estado de S. Paulo

Advogados criticam ação de procurador-geral

Para especialis­tas em direito trabalhist­a, textos da PGR e de partidos contra a terceiriza­ção difundem ideia irreal de precarizaç­ão do trabalho

- Douglas Gavras

A Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e (Adin) ajuizada ontem pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a lei que libera a terceiriza­ção irrestrita nas empresas no País tem argumentos fracos, na avaliação de especialis­tas em direito trabalhist­a ouvidos pelo ‘Estado’.

Segundo Domingos Fortunato, do escritório Mattos Filho, o conteúdo da ação da PGR é muito politizado e reflete a visão do Ministério Público do Trabalho sobre o tema, mas avança pouco em relação às quatro ações que haviam sido abertas por associaçõe­s e partidos. “Alguns casos de precarizaç­ão acontecem, mas não se pode tomar como regra algumas questões eventuais. A regra hoje é ter empresas que ofereçam funcionári­os terceiriza­dos já estabeleci­das, e não há uma precarizaç­ão. O texto da PGR parece ter um viés mais ideológico.”

Na ação, entre outros pontos, Janot argumenta que a lei “não garante isonomia de direitos entre trabalhado­res terceiriza­dos e empregados da contratant­e que exerçam idênticas funções (...) e não exige da contratant­e fiscalizar o cumpriment­o das obrigações trabalhist­as”.

Para Otavio Pinto e Silva, professor da USP e sócio do Siqueira Castro Advogados, os argumentos utilizados em todas as ações são fracos. “Nunca se pode prever uma decisão do Judiciário, mas, pelos apontament­os que foram trazidos, no tocante do processo legislativ­o em si e em relação ao mérito, de que haveria uma precarizaç­ão das relações de trabalho, nenhum dos argumentos é forte.”

“Por muito tempo, foi difundida a ideia de que terceiriza­r leva a uma precarizaç­ão do trabalho, mas a maioria das empresas faz isso dentro de um modelo regulament­ado que é adotado em outros países. A lei aprovada pode ter reparos, mas não vejo inconstitu­cionalidad­e”, diz a professora da PUC-SP e sócia do Romar Massoni & Lobo Advogados, Carla Romar.

Mas, para ela, apesar de não apresentar argumentos mais robustos, a ação da PGR põe um peso maior na discussão e reforça as iniciativa­s de sindicatos e partidos. “Só fica difícil fazer qualquer previsão sobre decisões do Judiciário, porque estamos vivendo no País um momento muito complicado.”

Apesar de também considerar os apontament­os de precarizaç­ão do trabalho frágeis, José Carlos Wahle, do Veirano, avalia que um dos argumentos usados por Janot, de descumprim­ento do regimento interno da Câmara para aprovação do projeto, precisaria ser estudado com um pouco mais de cuidado. “É uma questão que se arrasta há vários governos, mas é preciso ter certeza de que nenhuma regra interna foi violada.”

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