O Estado de S. Paulo

Comissão Europeia multa Google em ¤ 2,4 bi por abusos

Investigaç­ão apontou que buscador favorecia sua própria ferramenta de comparação de preços ante os concorrent­es

- Andrei Netto

A Comissão Europeia anunciou ontem, após sete anos de investigaç­ões, uma multa recorde de ¤ 2,42 bilhões ao gigante norteameri­cano Google por abuso de posição dominante. Segundo Bruxelas, a companhia favoreceu sua própria ferramenta de compras online, chamada Google Shopping, em detrimento de sites de comparação de preço de concorrent­es. Trata-se da maior multa aplicada pelo órgão, superior à de ¤ 1,06 bilhão imposta à Intel em 2009.

A punição contra o Google era esperada desde que a acusação formal foi apresentad­a, em abril de 2015. Segundo a comissária europeia de concorrênc­ia, Margrethe Vestager, a decisão pode gerar um efeito cascata entre os demais serviços da empresa, entre os quais o Google Imagens, o Google Flights (comparador de preços de passagens aéreas) e o Google Mapas.

A companhia norte-americana, segundo a Comissão, repetiu a prática alijando a concorrênc­ia em 13 países da União Europeia a partir de 2008, quando iniciou suas atividades na Alemanha e no Reino Unido.

A investigaç­ão apontou que, quando alguém procura por um produto no Google, o buscador privilegia resultados patrocinad­os, ou seja, pagos para figurar em destaque. Com isso, aqueles que não pagavam ao Google para entrar na vitrine acabavam em segundo plano, o que, segundo a Comissão Europeia, falseou a concorrênc­ia. A perícia realizada pelos investigad­ores verificou que as empresas indicadas no alto da página tinham 35% mais vendas que as que apareciam mais abaixo.

“O Google abusou de sua posição dominante ao promover seu próprio serviço de comparador­es de preços, o que é ilegal à luz das regras europeias antitrust”, disse Margrethe.

A Comissão deu 90 dias ao Google para apresentar recurso, mas advertiu que a continuida­de dessa prática comercial em outras áreas de pesquisa na internet poderá resultar em uma multa equivalent­e a 5% da receita da Alphabet, holding que controla o Google.

“Nós estamos em desacordo respeitoso em relação às conclusões anunciadas”, disse o Google, após o anúncio da sanção,

Infração “O Google abusou de sua posição dominante ao promover seu próprio serviço de comparador de preços, o que é ilegal à luz das regras europeias.” Margrethe Vestager COMISSÁRIA DA UNIÃO EUROPEIA

em seu blog oficial. “Vamos analisar a decisão da comissão porque pretendemo­s apelar.”

Reações. Entre os concorrent­es do Google, a punição foi recebida como um primeiro passo para garantir a concorrênc­ia na internet. Para Richard Stables, diretor-presidente da empresa de publicidad­e para sites de comércio eletrônico Kelkoo, os dez anos de suposto abuso de posição dominante pelo Google causaram um abalo irreversív­el no mercado.

“É um grande dia para o setor e para os consumidor­es da Europa”, afirmou Stables. “Com essa decisão, a comissão admite que Google infringiu a lei e agora deve permitir o retorno a um mercado concorrenc­ial.”

Segundo Eric Léandri, presidente da associação Open Internet Project, uma das partes que prestou queixa à Comissão, o mercado de comparador­es de preço encolheu na Europa após a chegada do Google. “Havia 400 comparador­es de preços na Europa antes de 2008, quando o Google lançou o seu serviço”, afirma. “Hoje existem entre 15 e 20.”

Com a punição ao Google, a União Europeia demonstra determinaç­ão de enfrentar gigantes multinacio­nais, mesmo com o risco de provocar um incidente diplomátic­o com o governo de Donald Trump.

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FACUNDO ARRIZABALA­GA/EFE Prazo. Google terá 90 dias para mudar práticas na Europa para não sofrer novas sanções

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