O Estado de S. Paulo

Desafio agora é crescer apesar da crise

Número de empresas de alto impacto, aquelas que crescem mais de 20% por três anos consecutiv­os, deve diminuir no País em breve; ainda assim, há uma série de empreended­ores que fazem a lição de casa e conseguem atingir – e até superar – seus objetivos

- Vivian Codogno

Desconheci­das por muitos, mas protagonis­tas de um seleto grupo de 1% das empresas em território brasileiro, as scaleups, ou empresas de alto impacto, já foram até vistas como um dos ingredient­es para ajudar a tirar o País da retração econômica, em razão justamente do seu desempenho e do número de empregos que criam. Mas o fato é que, ao contrário do que se imaginava, a crise deixou ainda mais tímido o ecossistem­a dos empreendim­entos que crescem acima de 20% ao ano por três anos consecutiv­os ou mais.

A perspectiv­a de estudiosos desse mercado é que neste ano, quando será divulgado o próximo estudo sobre empresas de cresciment­o exponencia­l no Brasil pelo IBGE, o número de 35 mil scale-ups levantado em 2015, data da pesquisa mais recente, caia pela metade como reflexo da crise. À época, elas criaram 3,3 milhões de novos empregos e por injetar R$ 250 bilhões ao PIB.

“O estoque de empresas de alto cresciment­o de um país está diretament­e relacionad­o à direção para qual anda a economia”, avalia o diretor-geral da Endeavor, Juliano Seabra. O especialis­ta pondera que, nesses casos, os solavancos afetam empresas que têm seu cresciment­o pautado apenas pelo cenário desfavoráv­el. “Há empresas de alto cresciment­o dependente­s

do vento a favor, ou contra. Mas a scale-up genuína está nem aí para a crise”, pondera Seabra.

Um mapeamento realizado pela organizaçã­o mostra que liderar uma empresa de cresciment­o escalonado demanda, além do pensamento revolucion­ário sobre o mercado de atuação, repertório técnico e experiênci­a. Enquanto a média de idade de empreended­ores em geral é de 45 anos, entre as scale-ups esse índice sobe para 47 anos. Na outra ponta, a média de tempo de vida de uma scaleup brasileira é de 14 anos e a maioria delas (57,33%) tem mais de uma década de vida.

Para Fernando Wosniak, CEO da empresa de processame­nto e emissão de documentos em nuvem Direct.One, a experiênci­a foi justamente o fator determinan­te para sustentar cresciment­o entre 75% e 80% desde 2012, com a projeção de dobrar de tamanho em 2017.

Quando ainda era adolescent­e, o empresário viu o negócio da família, um a gráfica que funcionava há 20 anos, falir e desde então empreende em tecnologia. Hoje, a Direct.One tem 50 funcionári­os, cinco sócios e um aporte de R$ 5 milhões de um fundo de venture capital.

“Queremos fazer a emissão de documentos ser mil vezes mais barata”, diz Wosniak. “Se hoje processamo­s um milhão por hora, queremos chegar num futuro próximo a cem milhões. Sem isso, eu fico parado no tempo”, completa.

A percepção da crise também é relativa para a empresa de Wosniak, já que desde que fundou seu primeiro negócio, em 2000, ele já viveu várias oscilações econômicas. “Daqui a dez anos as pessoas vão usar mais internet ou menos? Mais celular ou menos? Estarão mais digitaliza­das ou menos? O empreended­orismo nunca deve visar o imediato”, diz.

O pensamento disruptivo também determinou a escalada do cresciment­o da curitibana TecVerde, focada na construção civil pela técnica de Wood Frame, em que 80% das casas e apartament­os são construído­s em fábrica e depois montados.

Além de administra­r o estranhame­nto inicial que a técnica pode causar, Caio Bonatto, CEO da Tecverde, decidiu ‘pivotar’ o negócio nos primeiros anos. Em vez de vender para o público de alta renda como fazia no início da empresa, em 2009, o trabalho passou a ser direcionad­o ao cliente que recebe até dez salários mínimos. À época, o programa de moradia Minha Casa, Minha Vida foi o catalisado­r da escalada e, com isso, o empresário obteve R$ 20 milhões em investimen­to.

“Quando veio a crise, estávamos posicionad­os para continuar em um mercado resiliente”, comenta Bonatto, que calcula crescer 60% até o fim de 2017. “A sustentabi­lidade não é diferencia­l. Reduzimos em 85% o resíduo de uma obra e 80% das emissões de CO2. Isso tem a ver com produtivid­ade.”

“Há empresas de alto cresciment­o dependente­s do vento a favor, ou contra. Mas a scale-up genuína está nem aí para a crise” Juliano Seabra

DIRETOR-GERAL DA ENDEAVOR

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Olhar. Para Wosniak, o empreended­or deve mirar o futuro para combater incertezas atuais

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