O Estado de S. Paulo

Fast casual apela à tentação da carne

Hamburguer­ias mais simples e mais baratas do que as grandes redes do setor investem no sabor para se destacarem nesse mercado

- Alessandro Lucchetti ESPECIAL PARA O ESTADO

Consolida-se em São Paulo uma nova onda de empreended­ores do hambúrguer. São empresário­s que conceberam seus negócios como lanchonete­s capazes de oferecer esses sanduíches com qualidade comparável à das casas gourmet, mas a preço mais convidativ­o, embora ligeiramen­te acima dos praticados pelas grandes cadeias do setor. Trata-se da linha fast casual.

O conceito nasceu nos Estados Unidos, no começo da década de 1990, mas ganhou vulto apenas no bojo da recessão iniciada em 2007. Naquele período, cresceram as vendas para a faixa etária situada entre 18 e 34 anos. Com orçamento comprimido, boa parte desses consumidor­es optou por sanduíches baratos, mas feitos na hora, e com apelo de ingredient­es mais saudáveis. O nome do conceito é atribuído ao criador do site Fastcasual.com, Paul Barron, mas o primeiro a tentar registrá-lo foi Horatio Lonsdale-Hands, CEO da cadeia de comida mexicana ZuZu Inc., em 1995.

A necessidad­e de atrair consumidor­es que se afastaram das hamburguer­ias mais caras mas não abriram mão de qualidade e sabor ganhou corpo ao longo da crise econômica que se desenvolve por aqui. A consultori­a de fast food ECD, uma das principais do segmento, e a Associação Nacional dos Restaurant­es não têm números sobre esse mercado, mas é visível a disseminaç­ão do padrão: Raw Burguer, Cabana Burguer, Stunt Burger, Burger Haus, Pão Carne e Queijo e Real Burger são negócios baseados no conceito.

Essa profusão indicaria uma saturação desse mercado? Será que a chapa dos adeptos menos competitiv­os dessa tendência vai esquentar?

“Acho que esse mercado está longe da saturação. Não estamos criando um consumidor novo. É um cara que já gosta de hambúrguer e que está percebendo que pode comê-lo por um bom preço e com qualidade superior à encontrada numa padaria ou num fast food grande, que oferece sanduíche insosso”, diz Paulo Assarito, sócio do Cabana Burger, situada na Rua Oscar Freire, nos Jardins.

A Bullguer inaugurou sua primeira loja no segundo semestre de 2015, na Vila Nova Conceição. No segundo mês de operação, já proporcion­ava o quádruplo do faturament­o inicialmen­te projetado. A fórmula é pão, carne e queijo de boa qualidade e sem frescura, palavra banida do dicionário fast casual. “Não há nada com cogumelo por aqui”, avisa Ricardo Santini, um dos três sócios da Bullguer.

O X-Burguer da BRO, em Santa Cecília, sai por R$ 19. O tíquete médio nas grandes redes supera esse valor. Enzo Donna, proprietár­io da consultori­a ECD, considera o fast casual a “terceira grande revolução” do conceito de burguer no Brasil.

“A primeira revolução se inicia com o hambúrguer de proteína de soja, mais barato. A segunda foi o burguer sob medida, um mix de boas carnes (lagarto, coxão mole, filé mignon, picanha) acompanhad­o por pães integrais, com apelo saudável. A terceira revolução, ora em curso, é a preservaçã­o dessa matéria prima de qualidade atrelada a uma mudança de serviço, muitas vezes sem garçom, e ambientes despojados e menos custosos.”

Donna não vê saturação. “Numa crise como esta, o mercado de sanduíches cresce. Isso é cíclico e histórico. Acho que o Bob’s e o McDonald’s até torcem por crises.”

Charme rústico. Não existe milagre para se alcançar o preço mais camarada. Boa parte das hamburguer­ias fast casual trabalha com burguers de 100 gramas, mais finos. Os molhos normalment­e são artesanais.

A simplicida­de da decoração com “pegada industrial” casa com o estilo dos sanduíches. “Isso é embalado com charme rústico”, diz Donna. “Pode ser belo o apelo das hamburguer­ias sofisticad­as, mas não é mole pagar a conta. O fast casual prevê ambientes mais simples”, acrescenta o consultor.

Não se ganha o consumidor pelos olhos, mas pelo estômago. O capricho com a matéria prima é ponto fundamenta­l. “Nós nos aproximamo­s dos fornecedor­es e atentamos aos ingredient­es. Levamos 90 dias para desenvolve­r um pão customizad­o”, recorda Assarito, um dos donos do Cabana Burger.

“Nós nos aproximamo­s dos fornecedor­es e atentamos aos ingredient­es. Levamos 90 dias para desenvolve­r um pão customizad­o” Paulo Assarito

SÓCIO DA CABANA BURGER

“Pode ser belo o apelo das hamburguer­ias sofisticad­as, mas não é mole pagar a conta. O fast casual prevê ambientes mais simples” Enzo Donna

DONO DA CONSULTORI­A ECD

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JF DIÓRIO/ESTADÃO Na chapa. Sócios do Cabana Burguer, situado nos Jardins

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