O Estado de S. Paulo

A sedução está no ar

Saiba de onde vem o irresistív­el cheiro de carro novo que cativa o cliente

- Thiago Lasco thiago.lasco@estadao.com

Se o sonho de adquirir um carro novo move multidões – mesmo que a compra de um seminovo possa ser mais vantajosa financeira­mente –, boa parte do poder de sedução dessa ideia vem daquele irresistív­el cheirinho que o cliente sente ao entrar na cabine do veículo, antes mesmo de fechar negócio.

E a importânci­a desse detalhe não passa despercebi­da pelas montadoras. “Como o consumidor fica muito tempo dentro do carro, o cheiro e as outras experiênci­as sensoriais têm grande influência na decisão de compra”, explica o supervisor do centro tecnológic­o de materiais da Volkswagen, Michael Matz.

Ao contrário do que muitos pensam, porém, as fabricante­s em geral não desenvolve­m um aroma específico para seus modelos. O que se sente é a combinação dos odores de diversos componente­s da cabine: o couro ou tecido dos bancos, o plástico do painel e console, as forrações das portas e do teto, a borracha dos tapetes.

Assim, o que as marcas fazem é buscar, junto com seus fornecedor­es, que tais peças componham um cheiro ao mesmo tempo neutro e agradável. Os materiais são testados individual­mente por profission­ais dedicados a essa tarefa (leia abaixo) – se uma matéria-prima libera um cheiro forte ou pouco harmonioso, é descartada.

Há diversas variáveis que interferem no aroma resultante. Fatores climáticos, como temperatur­a, umidade e exposição ao sol, são importante­s, assim como a forma de utilização do carro.

“Os ocupantes podem deixar as janelas abertas ou fechadas e trazer outros cheiros para a cabine: perfumes, alimentos, fumo”, diz o supervisor sênior de produtos da Hyundai, Flávio Cuarelli. “Tudo isso influi na durabilida­de do cheiro.”

IDENTIDADE OLFATIVA

Alguns aficionado­s sabem identifica­r a fabricante do carro pelo odor da cabine. “O cheiro ajuda o cliente a estabelece­r uma relação de familiarid­ade com a marca, criando uma memória de conforto e bem-estar”, diz o gerente de materiais da Citroën, Fabien Darche.

A explicação para isso é simples: a montadora usa peças de acabamento dos mesmos fornecedor­es em diferentes modelos, o que faz com que eles tenham cheiros parecidos.

Algumas marcas, porém, se esforçam para desenvolve­r aromas que as identifiqu­em, como uma “assinatura olfativa”. A Citroën já criou fragrância­s para alguns produtos, como o C4 Pallas. Atualmente, os modelos da DS, divisão de luxo da marca francesa, também têm um perfume que é reaplicado na cabine a cada revisão.

Essa prática traz uma vantagem: recriar a sensação olfativa que o cliente sentiu ao receber o carro pela primeira vez. Enquanto isso, em outras marcas, depois que os odores exalados pelas peças enfraquece­m, o tão desejado cheirinho de carro novo se perde para sempre.

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CITROËN Modelos como o DS7 têm perfume que é reaplicado a cada nova revisão

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