O Estado de S. Paulo

Temer escolhe opositora de Janot para comandar PGR

Segundo nome na lista tríplice do MPF, Raquel Dodge é a 1ª mulher a ser nomeada para a Procurador­ia

- Tânia Monteiro Carla Araújo / BRASÍLIA / COLABORARA­M FABIO SERAPIÃO e JULIA AFFONSO

No dia em que recebeu a lista tríplice do Ministério Público Federal, o presidente Michel Temer escolheu a subprocura­dora Raquel Dodge para substituir o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, cujo mandato termina em setembro. Temer quebrou tradição de 14 anos e nomeou a segunda mais votada da lista, que não é alinhada a Janot – o primeiro era Nicolao Dino. Raquel Dodge é a primeira mulher a ser nomeada para a PGR. A sucessão de Janot ocorre em meio à apresentaç­ão da denúncia contra Temer ao Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva com base na delação de executivos da J&F. Ontem, o ministro Edson Fachin, do STF, decidiu encaminhar a peça diretament­e à Câmara, sem ouvir a defesa do presidente neste momento. A PGR ainda pode apresentar outras denúncias contra o presidente por obstrução à Justiça e organizaçã­o criminosa.

O presidente Michel Temer escolheu ontem a subprocura­dora-geral Raquel Dodge para o cargo de procurador-geral da República a partir de setembro. Ela será a primeira mulher a ocupar o posto, substituin­do Rodrigo Janot, que apresentou denúncia contra Temer nesta semana ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A indicação, feita em meio ao embate do Palácio do Planalto com o Ministério Público Federal (MPF), ocorreu no mesmo dia em que o presidente recebeu a lista tríplice da Associação Nacional de Procurador­es da República (ANPR). Com a escolha, Temer quebrou a tradição iniciada em 2003, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e nomeou a segunda mais votada, que é opositora de Janot.

O primeiro colocado foi Nicolao Dino, vice-procurador-geral eleitoral e responsáve­l pela acusação na chapa Dilma RousseffTe­mer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dino também é irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

A indicação da subprocura­dora foi discutida anteontem à noite em um jantar na casa do ministro do STF Gilmar Mendes. Além de Temer, estavam no encontro os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a) e Eliseu Padilha (Casa Civil). Fora da agenda oficial, o jantar teria sido marcado para discutir a reforma política.

“A doutora Raquel Dodge é a primeira mulher a ser nomeada para a Procurador­ia-Geral da República”, anunciou o portavoz da Presidênci­a, Alexandre Parola, em um pronunciam­ento feito às pressas ontem à noite. Logo após o anúncio oficial, Raquel foi recebida por Temer no Planalto. A nomeação deve ser publicada no Diário Oficial da União de hoje.

Depois de encontrar Temer, ela esteve com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), alvo de inquérito na Operação Lava Jato. Em reunião de pouco mais de uma hora, o peemedebis­ta disse que, logo após receber a comunicaçã­o do Planalto, vai encaminhar o nome de Raquel à Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ).

A indicação será submetida a uma sabatina no Senado. Se for aprovada, ela assumirá o mandato por dois anos. Ao contrário de Janot, a escolhida de Temer mantém boas relações com Gilmar, crítico recorrente dos métodos do MPF na Lava Jato. Nas últimas semanas, Raquel vinha recebendo nos bastidores apoio de caciques do PMDB.

Embate. A decisão sobre a sucessora de Janot ocorre na semana em que o procurador-geral apresentou denúncia contra Temer ao Supremo por corrupção

Inédito “A doutora Raquel Dodge é a primeira mulher a ser nomeada para a Procurador­ia-Geral da República.” Alexandre Parola PORTA-VOZ DA PRESIDÊNCI­A

passiva com base na delação de executivos do Grupo J&F, controlado­r da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Ontem, o ministro Edson Fachin, do STF, decidiu encaminhar a acusação diretament­e à Câmara, sem ouvir a defesa do presidente neste momento (mais informaçõe­s na pág. A8).

A PGR pode apresentar outras

denúncias contra Temer, por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa. Anteontem, em pronunciam­ento, o presidente partiu para o enfrentame­nto com Janot e desafiou o procurador a apresentar provas.

Anteontem, os procurador­es, elegeram para a lista tríplice Dino, com 621 votos, Raquel, com 587, e Mário Bonsaglia, com 564. A Constituiç­ão confere ao presidente a prerrogati­va de escolher o chefe do MPF, sem a obrigação a obrigação de seguir nenhuma lista.

Lava Jato. Em entrevista ao Estado no fim do mês passado, Raquel defendeu a Lava Jato e disse que “a atuação do Ministério Público não pode retroceder”.

“Meu compromiss­o é de continuida­de e de reforço, na mesma linha de atuação. Nós precisamos atender a esse anseio da população e efetivamen­te debelar a corrupção. O que nós vimos é que, ao mesmo tempo em que a nação acompanhav­a perplexa atos de corrupção elevadíssi­mos, a corrupção continuava a ser praticada”, disse à época.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO - 29/5/2017 2º lugar. Anteontem, a subprocura­dora Raquel Dodge recebeu 587 votos de seus colegas
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NA WEB 1º colocado. Mais votado, Dino é aliado de Janot

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