O Estado de S. Paulo

Fachin manda para a Câmara denúncia contra o presidente

Plenário da Casa deve autorizar a abertura do processo criminal antes de o STF julgar

- Breno Pires Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA /COLABORARA­MCARLAARAÚ­JO E IDIANA TOMAZELLI

O ministro Edson Fachin, do STF, encaminhou à Câmara dos Deputados a denúncia oferecida pela Procurador­ia-Geral da República contra o presidente Michel Temer e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures pelo crime de corrupção passiva no caso JBS. Fachin decidiu que não cabe ao Supremo ouvir a defesa do presidente neste momento e que Temer deve apresentar seus argumentos primeiro em julgamento político.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), resolveu encaminhar diretament­e à Câmara dos Deputados a denúncia oferecida pela Procurador­ia-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer e o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) pelo crime de corrupção passiva no caso JBS. Fachin decidiu que não cabe à Corte, neste momento, ouvir a defesa do presidente.

Relator do inquérito no qual foi feita a denúncia, Fachin entendeu que a defesa que Temer deverá fazer sobre a denúncia é, primeirame­nte, política, pois o primeiro julgamento será na Câmara. Assim, não faria sentido abrir espaço para a defesa se manifestar no Supremo, onde os argumentos devem ser técnicojur­ídicos.

O STF só julgará o recebiment­o da denúncia se a Câmara autorizar a abertura de processo criminal. Se não houver 2/3 dos 513 deputados federais (342 votos), o andamento ficará travado até Temer deixar o cargo. O envio da denúncia à Câmara será feito pela presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia.

Na Câmara, a base aliada traçou uma estratégia para tentar reverter a decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de “fatiar” as denúncias contra Temer. A decisão é aguardar a chegada de todas as denúncias para votá-las de uma só vez, segundo o vice-líder do governo na Câmara, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). “O regimento permite”, disse.

Em tese, o fatiamento da denúncia faria com que Temer precisasse do apoio de 172 deputados mais de uma vez, para barrar as denúncias uma a uma, o que ampliaria o desgaste político. Mas Perondi afirmou que é possível unificar as acusações na hora de os parlamenta­res decidirem se permitem ou não que o chefe do Executivo seja julgado pelo STF. O assunto foi discutido em reunião de líderes com o presidente no Palácio do Planalto.

O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), tentou evitar tratar da estratégia que o governo usará na Casa para conseguir reunir as denúncias em uma só votação. “Se vai se mandar para a CCJ uma denúncia, nós vamos estabelece­r o rito. Se no regimento não há o rito, nós vamos estabelece­r o rito, se for o caso”, disse. Segundo o líder, a compreensã­o da base aliada é que o fatiamento não é praxe e que o que “ficou definido é que a base não vai se submeter a estratégia política de ser três, quatro, cinco denúncias”.

Argumentos. Ao decidir encaminhar diretament­e à Câmara, Fachin disse que esta é a decisão correta porque a outra hipótese estudada – abrir um prazo para a defesa se manifestar no STF – terminaria por “aniquilar o próprio escopo protetivo da Presidênci­a da República buscado pela Constituiç­ão ao submeter a acusação por crime comum a um juízo prévio, predominan­temente político, a ser realizado pelos senhores deputados federais”.

Para o ministro, a previsão constituci­onal de autorizaçã­o prévia na Câmara tem por finalidade “proteger a soberania do voto popular, impondo que, quem fora eleito pelo sufrágio, só seja afastado do exercício de seu mandato com a autorizaçã­o dos representa­ntes do próprio povo”.

A opção por enviar diretament­e à Câmara era a defendida pelos advogados de Temer e contraria o que a PGR havia pedido. Anteontem, o advogado Gustavo Guedes, que defende o presidente, se reuniu com Fachin e explicou que considerav­a esta a forma mais rápida de tramitação.

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