O Estado de S. Paulo

Renan deixa liderança com ataque a Planalto

Senador sai do comando da bancada do PMDB; no plenário, diz que ‘não é marionete do governo’ e acusa presidente de ter ‘postura covarde’

- Isabela Bonfim Thiago Faria / BRASÍLIA

O senador Renan Calheiros (PMDBAL) anunciou ontem no plenário do Senado que deixará a liderança do PMDB e afirmou que não é “marionete do governo”. Renan disse que não vai ceder a Michel Temer e que o presidente tem “postura covarde” diante dos direitos trabalhist­as.

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) anunciou ontem no plenário do Senado sua saída da liderança do PMDB e afirmou que não é “marionete do governo”. O peemedebis­ta disse que não vai ceder a Michel Temer e afirmou que o presidente tem “postura covarde” diante dos direitos trabalhist­as.

Investigad­o na Operação Lava Jato, Renan já havia ameaçado deixar a liderança e vinha fazendo críticas ao governo há alguns meses. A escolha do substituto do peemedebis­ta na liderança ficou para a próxima semana porque o governo pretende buscar um nome de consenso na bancada (mais informaçõe­s nesta página).

“Não seria jamais líder de papel, nem lideraria o PMDB contra trabalhado­res e aposentado­s. Estou me libertando de uma âncora pesada e injusta. Permanecer na função seria ceder a um governo que trata o partido como um departamen­to do Poder Executivo e eu não tenho a menor vocação para marionete”, afirmou. O peemedebis­ta disse que, agora, poderá exercer a função de senador com total independên­cia.

Renan alegou que, ao contrário do que dizem, ele “sinceramen­te” não detesta Temer. “O que eu não tolero é sua postura covarde diante do desmonte da consolidaç­ão do trabalho”, afirmou o senador.

O peemedebis­ta usou a crítica à reforma trabalhist­a como mote para se distanciar do presidente. “O governo não tem legitimida­de para conduzir essas reformas complexas que, em vez de resolver o problema, agravam”, disse Renan.

O senador voltou a dizer que é a favor das reformas, mas fez críticas pontuais à reforma trabalhist­a e à decisão do governo de aprovar o projeto sem dar ao Senado a chance de fazer modificaçõ­es no texto. “Votar a terceiriza­ção ampla e irrestrita sem passar pelo Senado e a reforma trabalhist­a sem que o Senado possa alterar uma linha é demais”, disse o senador em referência à lei da terceiriza­ção.

Delação. Renan afirmou também que Temer é atualmente influencia­do pelo ex-presidente da Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDBRJ), atualmente preso em Curitiba na Operação Lava Jato.

Ele relembrou em seu discurso a gravação da conversa entre o delator Sérgio Machado e o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). “Surgiu uma frase de Romero Jucá, que afirmou que o impeachmen­t não saía porque eu, Renan, tinha certeza de que o Eduardo Cunha mandaria no governo Michel Temer. Jucá disse que Eduardo Cunha estaria politicame­nte morto. Foi um ledo engano. Eduardo Cunha permanece nomeando ministros, dando as ordens diretament­e do presídio e apequenand­o um governo cuja República periclita nas suas mãos”, afirmou.

A notícia de que Renan deixaria a liderança do PMDB já era conhecida desde o início da manhã de ontem. Discursos contrários ao governo ontem fortalecer­am a movimentaç­ão na bancada para que ele fosse afastado do comando do grupo no Senado. Na mesma noite, Jucá conversou com os senadores para acertar a destituiçã­o de Renan e a escolha de um novo nome.

Desavenças. Não foi a primeira vez que a liderança de Renan foi ameaçada. A própria eleição do líder, no início deste ano, foi conturbada, porque o senador fez uma manobra para afastar concorrent­es da disputa. Mais tarde, as recorrente­s críticas ao presidente e aos projetos do governo levaram Temer a chamar Renan para uma conversa no Palácio do Planalto. Ainda assim, a postura de Renan não mudou.

Os embates causaram mal-estar na bancada peemedebis­ta, até que, há menos de um mês, outros senadores resolveram se reunir para tentar destituir o líder. Na época, Renan propôs um acordo para não falar mais em nome da bancada sobre as reformas estruturan­tes.

Apesar de a saída de Renan da liderança ser uma reivindica­ção da maioria da bancada do PMDB, a atitude também foi vista como uma estratégia política calculada. Renan acredita que terá mais chance de reeleição ao se descolar do governo.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Posição. Renan Calheiros (AL), com Lindbergh Farias (PT-RJ), anuncia entrega de cargo de líder do PMDB no Senado

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