O Estado de S. Paulo

Governo pede verba extra para passaporte­s

Viagem. Incerteza permanece mesmo após o Ministério do Planejamen­to informar que o governo enviará ao Congresso um projeto para suplementa­r a Polícia Federal com R$ 102,4 milhões; solicitaçã­o de documento de emergência não vale para casos de turismo

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA Priscila Mengue / COLABORARA­M ANDREZA MATAIS e ANA NEDERAUER

A suspensão da emissão de passaporte­s afeta 10 mil pessoas por dia. Estão mantidos os agendament­os pela PF, mas não há previsão para entrega do documento. O governo pedirá ao Congresso autorizaçã­o para destinar R$ 102,4 milhões ao serviço.

A suspensão da emissão de passaporte­s, iniciada ontem, afeta cerca de 10 mil pessoas por dia, conforme informou a Polícia Federal (PF), consideran­do o número médio de pedidos. O órgão mantém os agendament­os e o serviço nos postos de atendiment­o de todo o País, mas não tem previsão de entrega. A incerteza permanece mesmo após o Ministério do Planejamen­to haver informado que o governo enviará ao Congresso um projeto para suplementa­r R$ 102,4 milhões.

Conforme o governo, já houve acordo com o presidente da Comissão Mista de Orçamento, senador Dário Berger (PMDB-SC), para que haja votação ainda nesta semana, dada a urgência. Com isso, a expectativ­a é que o serviço seja regulariza­do “nos próximos dias”. Segundo a PF, não há mais recursos para comprar as cadernetas impressas pela Casa da Moeda.

A corporação alega ter feito dez avisos formais neste ano para o governo federal sobre a necessidad­e de mais recursos. O primeiro ofício foi enviado ainda em 6 de janeiro. Em maio o serviço já iria parar, mas o ministério repassou R$ 24 milhões.

No ano passado, durante a discussão do Orçamento, a PF pediu R$ 248 milhões para passaporte­s. Mas o governo enviou uma proposta de R$ 121 milhões. Com a suplementa­ção, o valor para emissão do documento chegará a R$ 223,4 milhões. Em cinco anos, a maior despesa com emissão de passaporte­s foi registrada em 2016 e correspond­e a R$ 212 milhões.

A PF ainda continua a emitir o chamado passaporte de emergência, com validade de 1 ano. Entende-se por emergência situações que “não puderam ser previstas e não situações criadas por descuido do cidadão”. A situação de turismo não se enquadra como emergencia­l. A solicitaçã­o vale sobretudo para viagem imediata por motivo de saúde e por necessidad­e do trabalho. O Estado indagou sobre os casos de estudo e foi informado que cabe análise caso a caso. Alívio e receio. Em São Paulo, só na Superinten­dência da Lapa, zona oeste, são emitidos cerca de mil passaporte­s por dia, número que sobe para 2,1 mil se for somado aos oito demais postos da capital e da Grande São Paulo. Entre os que buscavam seus documentos ontem no local, era comum comemoraçõ­es, como a do padre Serafim e da irmã Cecília, do Mosteiro Rainha da Paz, da zona sul paulistana. “Ainda bem, que sorte!”, também chegou a dizer a aposentada Rosa Alice Pereira, de 71 anos, que ia para a Austrália. No mesmo local, a psicanalis­ta Sueli Maciel também estava satisfeita por ter buscado o passaporte

de urgência, solicitado há três dias, que vai garantir a presença em um fórum em Paris.

Já Leonardo Fernandes, de 19 anos, estava temeroso com a situação. Estudante do curso de Ciências do Exercício da Missouri Valley College, ele tinha aproveitad­o as férias no Brasil para renovar a documentaç­ão, antes de retornar aos Estados Unidos em agosto. “Nem de emergência eu consegui. Mandaram voltar quando estivesse mais perto do prazo”, disse.

A tensão chegou a criar uma amizade entre a auxiliar de escritório Tamara Santos, de 18 anos, e a modelo Thamires Nascimento, de 19. Elas se conheceram em um trem enquanto procuravam informaçõe­s sobre como chegar à Superinten­dência. Ao longo de dois anos, Tamara guardou dinheiro para realizar o sonho de estudar inglês no Canadá. Com o curso já pago, com um valor que equivale a mais de quatro vezes o que recebe por mês, ela se preocupa se conseguirá embarcar para Toronto em setembro. Já Thamires está com a passagem já comprada para Milão, onde tem um contrato de trabalho de três meses com uma agência de modelos – e deve obter o documento.

Viagem. Mas a notícia da suspensão tirou a empolgação de quem cogitava viajar nas próximas férias, como o estudante de Direito João Carlos Cardoso Filho, de 23 anos. Caso parecido com o da professora Theo Rocha, de 52 anos, que planejava passar três meses na Suíça, para visitar o irmão e se informar sobre opções de pós-graduação na Europa.

Já a aposentada Clara de Oliveira Galdino Silva, de 67 anos, e o estudante de Jornalismo William Carlos Domingos, de 22 anos, foram juntos fazer o passaporte pela primeira vez. Há um ano, ela comprou um pacote de viagem mais caro para o Peru porque a opção mais barata tinha uma conexão no Panamá, que exige a apresentaç­ão do documento. Já seu neto, que cria desde os 7 meses e considera filho, tem planos de ir aos Estados Unidos e à Austrália, onde talvez possa encontrar uma paixão antiga. “Ele chegou a ir até Guarulhos e se despedir dela, mas perdeu a data de embarque. Daí ficou com essa história pela metade.”

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SFOTOS: RAFAEL ARBEX / ESTADAO Comemoraçã­o. Religiosos ficaram aliviados por terem conseguido retirar documento
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Desânimo. Professora planejava visitar irmão na Europa

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