O Estado de S. Paulo

Imposto pode subir

Arrecadaçã­o. Com receitas em queda e risco de descumprim­ento da meta fiscal, alta de tributos ganha mais força no governo; entre as possibilid­ades em estudo no Ministério da Fazenda estão o aumento da Cide ou do PIS/Cofins sobre os combustíve­is

- / FRANCISCO CARLOS DE ASSIS, EDUARDO LAGUNA, ANNE WARTH , GUSTAVO PORTO E ADRIANA FERNANDES

“Se for necessário, vamos elevar impostos”, disse Henrique Meirelles (Fazenda). Para compensar a queda da arrecadaçã­o, ideia é aumentar a Cide ou o PIS/Cofins de combustíve­is.

“Não acho adequado tomar uma decisão e não anunciar e depois, perguntado, revelar.”

MINISTRO DA FAZENDA

Com a arrecadaçã­o em queda e o cumpriment­o da meta fiscal correndo risco, o aumento de impostos começa a se tornar uma possibilid­ade cada vez mais real dentro do governo. “Se for necessário, vamos aumentar impostos”, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista após participar de evento com investidor­es do Citibank, em São Paulo.

O ministro lembrou que, desde o ano passado, já afirmava que, se fosse necessário, não hesitaria em lançar mão da medida mais drástica de alta de tributos. “E eu repito isso agora de forma ainda mais pertinente. Quer dizer, de fato a queda da arrecadaçã­o é importante, produto principalm­ente das maturações dos prejuízos fiscais das empresas. O efeito tributário está acontecend­o no momento. Então, tem uma queda defasada da arrecadaçã­o como resultado da queda das empresas em anos anteriores”, disse.

A afirmação do ministro foi interpreta­da como uma sinalizaçã­o aos investidor­es de que o governo vai fazer o que for necessário para garantir a meta fiscal deste ano, um déficit de R$ 139 bilhões.

Economista­s já vêm advertindo que, com as expectativ­as de arrecadaçã­o sendo frustrada mês a mês, além das incertezas relacionad­as a receitas extraordin­árias de mais de R$ 90 bilhões previstas pelo governo, o aumento de impostos será inevitável para fechar as contas.

O presidente Michel Temer havia firmado um compromiss­o de não aumentar impostos, mas, mesmo assim, a equipe econômica já tinha conseguido elevar, em março, o IOF (Imposto sobre Operações Financeira­s) de cooperativ­as de crédito.

Cide ou PIS/Cofins.

Meirelles disse, porém, que não há definição sobre o aumento da Cide Combustíve­is, um tributo cobrado sobre a venda da gasolina e do diesel. “Eu tenho uma postura sobre decisões deste tipo. Não acho adequado tomar uma decisão e não anunciar e depois, perguntado, revelar. No dia que eu tomo uma decisão e for formalizad­a, nós anunciamos imediatame­nte”, disse.

Na terça-feira, o secretário de Petróleo e Gás Natural do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Félix, disse que o aumento da Cide estava em estudo no Ministério da Fazenda.

O Estadão/Broadcast apurou que a ideia é fazer com que o valor da Cide varie inversamen­te aos preços dos combustíve­is. Assim, a Cide cairia quando o preço estivesse mais alto e subiria quando os preços ficassem mais baixos, o que criaria um diferencia­l competitiv­o para o etanol e o biodiesel, combustíve­is renováveis e prioritári­os no RenovaBio, projeto do MME para incentivar o setor.

A cada R$ 0,10, a Cide contribui com uma arrecadaçã­o extra de cerca de R$ 3,5 bilhões por ano. Se fosse elevada hoje, porém, a nova alíquota só entraria em vigor em 90 dias. Por isso, a contribuiç­ão fiscal seria pequena neste ano, mas consideráv­el para 2018, quando a meta será de déficit de R$ 129 bilhões.

Outra opção seria elevar o PIS/Cofins da gasolina, que teria a vantagem de a arrecadaçã­o

Henrique Meirelles

não ser dividida com os Estados e municípios, como ocorre com a Cide. Também não é preciso o período de noventena. Os dois tributos, porém, têm a mesma base tributária.

A escolha entre a Cide e o PIS/Cofins, segundo fonte da equipe econômica, depende da composição política, exatamente por conta dessa distribuiç­ão dos valores arrecadado­s. Não há ainda decisão sobre o aumento de nenhum dos tributos.

O presidente da Frente Parlamenta­r do Setor Sucroenerg­ético, deputado Alexandre Baldy (Podemos-GO), informou que o Ministério da Fazenda já aceita a elevação do PIS/Cofins. Segundo ele, o Banco Central, que era resistente à alta do tributo para não prejudicar a inflação, já estaria aceitando a proposta para preservar os empregos. Ele ressaltou que o setor pode quebrar e já fechou R$ 100 mil empregos em todo o País.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO-26/6/2017 Foco. Para Meirelles, há queda de arrecadaçã­o defasada

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