O Estado de S. Paulo

Para juristas, denúncia tem deficiênci­as

Ex-ministro do STF e constituci­onalista apontam falhas na peça apresentad­a por Rodrigo Janot; mas professor da USP vê ‘materialid­ade’

- Adriana Ferraz

Apesar de sua contundênc­ia, a denúncia apresentad­a pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anteontem possui lacunas e deficiênci­as, avaliam juristas que, a pedido do Estado, analisaram a peça. No centro do debate estão as supostas provas e os indícios de autoria do crime de corrupção passiva que teria sido cometido pelo presidente Michel Temer.

Segundo dois analistas consultado­s pelo Estado, a decisão da condenação ou não dependerá da apresentaç­ão de elementos que comprovem que Temer era o destinatár­io final da mala com dinheiro entregue a seu exassessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

De acordo com ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (SFT) Carlos Velloso, a única prova apresentad­a até agora, o áudio da conversa entre Temer e o dono da JBS, Joesley Batista, não atesta que o dinheiro chegou ao presidente.

Professor de Direito Constituci­onal da PUC-SP, Pedro Serrano considera a gravação nula, já que foi provocada, ou seja, armada. “Para mim, esse tipo de prova é nula, não tem valor. É quase que um teste de probidade”, afirma.

Aliado do presidente Michel Temer, Loures, que está preso em Curitiba, foi flagrado na noite de 28 de abril em um estacionam­ento de um restaurant­e em São Paulo carregando uma mala preta com R$ 500 mil em espécie. Loures foi filmado pela Polícia Federal.

Joesley Batista, um dos donos da JBS, gravou o presidente Temer na noite de 7 de março, no Palácio do Jaburu. O áudio da conversa tem duração de cerca de 40 minutos e foi revelado pela PF. Em vários trechos, o nome de Loures é citado.

Outra visão. Já Rafael Mafei, professor da Faculdade de Direito da USP, afirma que a materialid­ade e autoria do crime estão comprovado­s na denúncia de Rodrigo Janot. “Ou Loures receberia tal mala por si próprio? Não se trata de uma ilação. Desde o mensalão, abriu-se um precedente na interpreta­ção de atos de corrupção mediante a avaliação da conduta das pessoas que formam um mesmo grupo ou que têm algum tipo de vínculo.”

É a primeira vez na história da República brasileira que um presidente é acusado formalment­e de crime durante o exercício do mandato. Em 1992, Fernando Collor de Mello foi denunciado quando já estava afastado do cargo.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-17/9/2014 Procurador-Geral. Janot denunciou Temer por corrupção passiva
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Áudio. Ouça a conversa entre Temer e Joesley
NA WEB Áudio. Ouça a conversa entre Temer e Joesley

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