O Estado de S. Paulo

Medida causou queda de braço nos bastidores do governo

PF diz ter enviado dez alertas sobre falta de verba; segundo fontes do Executivo, órgão tem orçamento disponível

- / L.A.O. e ELISA CLAVERY

A medida drástica adotada pela Polícia Federal causou uma queda de braço nos bastidores do governo. De um lado, o órgão informou que já havia enviado dez alertas sobre o risco de falta de recursos para esse serviço. De outro, circularam dados mostrando que, ao contrário do que alegou a PF, ainda há recursos orçamentár­ios. Portanto, não havia necessidad­e de suspender o serviço.

Segundo fontes do governo, dados da execução orçamentár­ia apontam que, dos R$ 145 milhões disponívei­s para a aquisição de passaporte­s, a PF só empenhou (reservou para gastar) R$ 88 milhões. Portanto, ainda restam R$ 57 milhões.

Mesmo havendo recursos, o governo decidiu elevar o orçamento do órgão porque o montante disponível não seria suficiente para manter o serviço até o fim do ano. Em 2016, foram gastos R$ 212 milhões com a emissão de passaporte­s. Neste ano, contando o orçamento já existente e a suplementa­ção anunciada ontem, haverá R$ 247,4 milhões, a maior verba já destinada a esse programa.

A suspensão dos passaporte­s causou perplexida­de em alas do governo porque, segundo entendiam, a situação estava equacionad­a. Mesmo antes da adoção da medida pela PF, o pedido de suplementa­ção orçamentár­ia de R$ 102,4 milhões já estava acertado. E, pelas contas da área técnica, os R$ 57 milhões seriam suficiente­s para seguir fornecendo os passaporte­s sem problemas até que o Congresso Nacional aprovasse a elevação no orçamento. O Estado questionou a Polícia Federal sobre a suposta existência de recursos, mas não obteve resposta.

Lava Jato. O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos responsáve­is pela Operação Lava Jato no Paraná, ainda aproveitou o caso para criticar a atual gestão. “O governo Temer sufoca a Polícia Federal. Nem dinheiro para a emissão de um documento necessário como o passaporte”, escreveu o procurador em sua página no Facebook. “Imagine como está a continuida­de das diversas investigaç­ões pelo País.” Segundo Lima, na operação Lava Jato “a equipe foi significat­ivamente reduzida”. O procurador ainda questionou: “A quem isso interessa?”

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