O Estado de S. Paulo

Ferrou? Aumenta a Cide

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Qualquer um pode usar o celular para martelar tachinhas em um painel. Mas, além de não ser instrument­o adequado para isso, o celular pode sofrer graves avarias.

É o que o governo quer fazer com a Cide dos combustíve­is. A Cide, Contribuiç­ão de Intervençã­o no Domínio Econômico, é um tributo criado em 2001 com o objetivo de regular mercados.

Seu objetivo é aumentar ou diminuir os preços de determinad­os produtos para, por exemplo, dar viabilidad­e a um deles – e não só ao de um combustíve­l. Nesse caso, o encarecime­nto da gasolina e do óleo diesel em consequênc­ia do aumento da Cide tende a elevar competitiv­idade do etanol e do biodiesel, respectiva­mente, sob aplausos intensos dos usineiros e dos produtores de biodiesel.

Mas não é esse o objetivo pretendido. O governo quer aumentar a Cide sobre os combustíve­is não exatamente para abrir espaço para o etanol e para o biodiesel, embora possa alegar também isso, mas para aumentar a arrecadaçã­o. Ou seja, um tributo regulatóri­o passaria a ser usado com funções arrecadató­rias. A distorção resultante é a de que fica prejudicad­o o uso da Cide para cumpriment­o de sua função principal, que é a de regular o mercado.

Outra proposta descabida é pretender impor taxação extra sobre a importação de etanol de milho dos Estados Unidos, com o argumento de que o etanol não consegue enfrentar a competição do produto americano.

Os verdadeiro­s problemas não têm a ver com as soluções pretendida­s. A baixa arrecadaçã­o é consequênc­ia da recessão e da crise. A solução para isso é o aumento do cresciment­o econômico e do emprego e não o aumento da Cide.

O caso do etanol brasileiro é outro. Os custos são elevados demais e exigem altos preços do petróleo para viabilizá-lo. A derrubada dos preços do petróleo e, em consequênc­ia, a queda dos preços internos dos combustíve­is tiraram ainda mais capacidade de competição do etanol, que já era naturalmen­te baixa. A solução não é aumento da Cide, mas redução dos custos de produção do etanol.

A ideia de taxar as importaçõe­s do etanol de milho também é falsa solução. Está claro que o produto americano ficou mais competitiv­o do que o etanol de cana-de-açúcar produzido por aqui, que enfrenta o asfixiante custo Brasil. A argumentaç­ão de que é preciso barrar a entrada do produto americano porque ele recebe subsídios não é só meia-verdade; é o início de uma briga complicada que tende quase necessaria­mente a represália­s comerciais de todo tipo que não interessam ao Brasil. Hoje a vítima é a carne, amanhã serão as frutas.

O Brasil é viciado em criar mecanismos artificiai­s para a economia. Vejam o caso da Zona Franca de Manaus, criada em 1967, como medida temporária, para alavancar o desenvolvi­mento da Amazônia. Hoje, tal desenvolvi­mento continua capengando, 50 anos de Zona Franca não foram suficiente­s para emancipar a área e o que era para ser temporário virou permanente. Só de isenção de ICMS são R$ 7 bilhões por ano. Se fossem arrecadado­s, as finanças do Estado do Amazonas não estariam em situação lastimável. Essa é apenas mais uma dessas distorções produzidas por medidas artificiai­s, como a que se pretende agora com o aumento da Cide.

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