O Estado de S. Paulo

Inadimplên­cia das famílias não muda com FGTS inativo

Após três meses de saque das contas, injetando R$ 27 bilhões na economia, índice de inadimplên­cia permanece inalterado

- Fabrício de Castro Eduardo Rodrigues COLABORARA­M FRANCISCO CARLOS DE ASSIS E EDUARDO LAGUNA

Mesmo após três meses de saques nas contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a inadimplên­cia entre as famílias brasileira­s seguiu nos níveis do início do ano. Foram cerca de R$ 27 bilhões injetados na economia de março a maio, mas mesmo assim, o índice de inadimplên­cia das famílias em operações de crédito encerrou maio em 5,9%. O porcentual é idêntico ao verificado em fevereiro, antes do início dos saques.

Os dados, divulgados ontem pelo Banco Central, referem-se às operações de crédito livre – ou seja, não incluem recursos da poupança e do BNDES.

Em fevereiro, quando o presidente Michel Temer anunciou, em cerimônia oficial no Planalto, o calendário de saques do FGTS, o governo defendeu que os recursos serviriam para reduzir a inadimplên­cia e o endividame­nto das famílias. A expectativ­a era de que parte dos recursos fosse usada para pagar contas em atraso, enquanto outra parcela fosse destinada ao consumo, contribuin­do para a retomada do varejo.

Os números do BC, no entanto, indicam que a inadimplên­cia das famílias – caracteriz­ada por atrasos superiores a 90 dias – pouco variou no período. Ela foi de 5,9% em março, 5,8% em abril e 5,9% em maio. Na prática, parte das famílias pode até ter direcionad­o os recursos do FGTS para o pagamento de dívidas atrasadas, mas outra parcela dos brasileiro­s pode ter caído na inadimplên­cia no período.

“Não sabemos como esses recursos do FGTS se dividiram. Mas, na média, a taxa de inadimplên­cia de pessoas físicas com recursos livres nos cinco primeiros meses de 2017 ficou estável”, pontuou o chefe adjunto do Departamen­to Econômico do BC, Fernando Rocha.

Pessoa jurídica. Entre as empresas, a inadimplên­cia piorou. Após atingir 5,4% das operações de crédito livre em janeiro, o índice subiu para 5,6% em abril e atingiu 6,0% no mês passado. Esse é o maior índice de inadimplên­cia entre as empresas

na série histórica, iniciada em 2011. “Essas taxas são baixas quando se considera o ciclo econômico”, minimizou Rocha. Consideran­do famílias e empresas, a inadimplên­cia total em operações com recursos livres atingiu 5,9% – também recorde.

Juros. As taxas de juros cobradas em operações com crédito livre continuara­m, em maio, sua trajetória de queda. Sob influência do recuo da Selic (a taxa básica de juros) e das mudanças nas regras do rotativo do cartão de crédito, a taxa média para as famílias passou de 68,3% ao ano em abril para 63,8% ao ano em maio. No caso das empresas, cedeu de 26,3% para 25,9% ao ano. A taxa média, levando-se em conta famílias e empresas, foi de 49,3% para 46,8% ao ano em maio.

Já o saldo das operações de crédito livre em maio subiu 1,0% no caso das famílias, mas recuou 1,6% entre as empresas. Consideran­do famílias e empresas, o saldo total cedeu 0,3% no mês passado e acumula queda de 2,2% em 2017. Ontem, o BC alterou sua projeção de expansão para o crédito livre este ano, de 2% para zero.

Na modalidade de crédito mais cara do mercado, a taxa do rotativo do cartão passou por nova redução de juros. Os dados do BC mostraram que a taxa despencou de 428,1% ao ano em abril para 363,3% ao ano em maio, patamar ainda alto.

Desde abril, o consumidor que não pagar a dívida no cartão – seja parte da fatura ou toda ela – vai automatica­mente para o crédito rotativo. Após 30 dias no rotativo, a dívida migra para outra modalidade de crédito. Essa regra, que reduz o risco de inadimplên­cia, abriu espaço para que os bancos cobrem juros menores também no rotativo. /

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