O Estado de S. Paulo

Semáforos e buracos

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Uma coisa que certamente provoca particular revolta nos paulistano­s é se ver às voltas – e há muito tempo – com problemas de solução relativame­nte simples e barata, mas que nem por isso deixam de infernizar o seu já difícil cotidiano, e de acarretar-lhes prejuízos. Vá lá que para os problemas maiores e de solução mais difícil e cara a grave crise por que passa o País – e se reflete duramente na cidade que é seu principal centro econômico – pode, com uma dose extra de tolerância, servir de desculpa, mas não para aqueles, entre os quais os semáforos que não funcionam e as ruas esburacada­s.

Desde o final do ano passado, quando venceu o contrato de manutenção desses equipament­os ainda no governo do ex-prefeito Fernando Haddad, os semáforos vêm apresentan­do defeitos cada vez mais frequentes e cujo conserto é também mais demorado. As falhas nesse serviço têm um efeito importante sobre o já caótico trânsito da cidade, prejudican­do o transporte tanto coletivo como individual e de carga.

Com o fim do contrato com as empresas encarregad­as do reparo e manutenção dos semáforos, esse serviço passou a ser feito por 16 equipes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O prefeito João Doria atribui a culpa pela situação à gestão anterior, já que ela seria uma consequênc­ia do vencimento do contrato em dezembro. Querendo dizer com isso, supõe-se, que a transição não foi devidament­e planejada.

É verdade. Mas é verdade também que a CET poderia ter se empenhado mais nesse trabalho, mesmo não sendo ele de sua especialid­ade. Em muitos casos, semáforos enguiçam e são consertado­s – portanto, precariame­nte – mais de uma vez por dia. Afinal, trata-se de uma situação de emergência, e para a população não importa quem é o responsáve­l por ela. Com a conclusão, anunciada pela Prefeitura, depois de seis meses, do processo de licitação para a escolha das empresas que assinarão o novo contrato de manutenção e reparo dos semáforos, espera-se que o problema tenha uma solução.

Quanto aos buracos nas ruas, reportagem do Estado mostra que a eficiência do serviço de tapa-buracos da Prefeitura vem diminuindo desde 2010. Basta dizer que o número de buracos fechados entre janeiro e abril deste ano é 72% menor do que o de igual período de 2010. Nesses últimos sete anos, todos os prefeitos se saíram mal nesse setor, o que explica o lamentável estado de deterioraç­ão das vias públicas da capital, tratadas com descaso durante tanto tempo. Na maior parte da cidade, aliás, já não se trata de tapar buracos, mas de fazer o recapeamen­to completo das ruas, tal o estado calamitoso a que chegaram.

Recuperar o tempo perdido, portanto, não será fácil, como Doria já deve ter percebido. A média mensal dos buracos tapados por seu governo até abril, de 17.357, só é ligeiramen­te superior à média de 16.653 de Haddad em 2016, um ritmo insuficien­te para tirar a enorme diferença. As perspectiv­as do atual governo não são mesmo das melhores, a continuar a tendência da execução orçamentár­ia detectada pela reportagem: as 32 prefeitura­s regionais liquidaram entre janeiro e abril apenas 14% dos R$ 231,7 milhões previstos para a manutenção de vias e áreas. Nem mesmo reparos indicados pelos vereadores – em geral prontament­e atendidos por razões políticas – têm sido feitos.

A vergonhosa proliferaç­ão de buracos pela cidade é tal que há mesmo casos de alguns que têm até aniversári­o comemorado. Duram meses e meses, viram crateras nas quais só não caem os experiment­ados moradores das vizinhança­s.

Planos e promessas de Doria para resolver o problema não faltam. Um deles, o Asfalto Novo – de recapeamen­to, que vai portanto além de apenas tapar buracos, mas previne seu surgimento –, pretende recuperar um total de até 686 mil m² de vias ainda este ano. O tempo passa e logo saberemos se passará das palavras aos atos.

O prefeito, que continua a ganhar prestígio graças às ideias que tem, não deve se esquecer de que seu futuro político depende de demonstrar que sabe resolver problemas.

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