O Estado de S. Paulo

Governo vence na CCJ e oferece pastas ao Centrão

Planalto obtém vitórias no colegiado e parecer contra a denúncia é aprovado; siglas do bloco informal dão 100% dos votos e podem ser beneficiad­as com ministério­s do PSDB

- / CARLA ARAÚJO, DAIENE CARDOSO, ISADORA PERON, JULIA LINDNER, RAFAEL MORAES MOURA e RENAN TRUFFI

Depois de diversas manobras do Palácio do Planalto, entre elas a troca de integrante­s da Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) da Câmara, o governo obteve duas vitórias ontem no colegiado – conseguiu derrubar o relatório do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) e aprovar um voto separado pela rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer. O parecer segue agora para a apreciação do plenário da Casa.

Como retribuiçã­o ao apoio que recebeu, Temer deve ampliar no governo o espaço do chamado Centrão – grupo informal de médios partidos. A negociação pode envolver ao menos dois ministério­s cobiçados por aliados: Cidades e Secretaria de Governo. As pastas são ocupadas pelo PSDB, que liberou a bancada para votar na CCJ e, dos sete deputados no colegiado, cinco votaram contra o governo. Foram favoráveis a Temer Elizeu Dionizio (MS) e Paulo Abi-Ackel (MG), autor do parecer vencedor na comissão.

Nesta semana, PP, PR, PSD e PRB fecharam questão para votar pelo não seguimento da denúncia contra Temer. Uma eventual substituiç­ão nos ministério­s, porém, é prevista apenas para depois da votação do caso no plenário da Câmara, o que deve ocorrer no início de agosto (mais informaçõe­s na página ao lado).

Juntos, os quatro partidos mais o PMDB de Temer somam

185 votos, o suficiente para barrar o seguimento da denúncia. Temer é o primeiro presidente denunciado por corrupção passiva no exercício do cargo.

Logo depois da votação, o porta-voz da Presidênci­a, Alexandre Parola, disse que o presidente recebeu o resultado “com a tranquilid­ade de quem confia nas instituiçõ­es brasileira­s”.

Mudanças. Com 25 movimentaç­ões na CCJ desde junho, sendo 14 mudanças apenas em vagas titulares, o Planalto obteve a aprovação do parecer que rejeita o prosseguim­ento da denúncia. Foram 40 votos contra e 25 a favor do parecer de Zveiter, que recomendav­a a admissibil­idade do pedido da Procurador­ia-Geral da República.

Os partidos do Centrão – PRB, PTB, PR, PSD, PP, PSC e PROS – garantiram 100% dos votos das bancadas contra a denúncia. PHS e PV, que devem ter posicionam­ento diferente no plenário, também votaram contra o texto de Zveiter. Dos 40 votos favoráveis a Temer, 12

Vagas No Planalto, alguns auxiliares do presidente Michel Temer são contra a retaliação ao PSDB. Há ainda outras duas pastas vagas na Esplanada dos Ministério­s: Cultura e Transparên­cia.

foram de deputados trocados nos últimos dias na comissão.

O relatório de Abi-Ackel foi aprovado por 41 votos a 24. “Trata-se de uma ficção, pois a denúncia não é capaz de responder a questões fundamenta­is”, disse o deputado mineiro.

O único voto divergente entre a primeira e a segunda votação foi o do deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), suplente de Zveiter. A escolha de Abi-Ackel como relator expôs a divisão da bancada tucana na Câmara. “Quero registrar que esse parecer não representa os votos de cinco deputados do PSDB”, disse Silvio Torres (PSDB-SP).

Presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) disse que a escolha de Abi-Ackel como o segundo relator seguiu “critério pessoal e técnico”.

Ministério­s. Nas negociaçõe­s com o Planalto, integrante­s do Centrão manifestar­am o desejo de ocupar as pastas que hoje estão com os tucanos. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou ao Estado que “a circunstân­cia vai ditar” se será necessário fazer uma readequaçã­o do gabinete ministeria­l. “Cada dia sua agonia.”

Padilha, no entanto, disse que o governo vai avaliar os fiéis e infiéis. “Temos de ver como é que vai ser o comportame­nto da base durante esse processo. O governo está sempre procurando correspond­er ao que seja a sua base.”

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ANDRE COELHO / AGENCIA O GLOBO Placar. Parecer do relator Sergio Zveiter (PMDB-RJ), favorável à denúncia contra Temer, foi rejeitado por 40 votos a 25

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