O Estado de S. Paulo

‘Pau que mata Michel mata Lula’, afirma Mariz

Advogado de defesa do presidente critica ‘cultura punitiva’; relator acusa Temer de ‘usar dinheiro público’ para ‘submeter a Câmara’

- Julia Linder Daiene Cardoso / BRASÍLIA

O advogado de defesa do presidente Michel Temer, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, disse ontem que há uma “cultura punitiva” no País, citando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado anteontem a 9 anos e 6 meses de prisão.

“Pau que mata Chico mata Francisco. Pau que mata Michel mata Lula”, disse.

Em sua sustentaçã­o final, antes da votação na Constituiç­ão de Comissão e Justiça (CCJ) do parecer sobre a denúncia contra Temer, Mariz disse que os deputados devem pensar que, “nesta progressão, a cultura punitiva vai atingir qualquer cidadão brasileiro”. O criminalis­ta deu ainda um alerta aos parlamenta­res: “Nós precisamos nos defender de um avanço indevido do Ministério Público”.

Mariz também considerou que a autorizaçã­o para denúncia tem “juízo de valor” e que a Câmara não deveria simplesmen­te chancelar o que vem da Procurador­ia-Geral da República (PGR). “O Ministério Público tem exagerado, atingido inocentes, destruído personalid­ades por açodadas acusações.”

Mariz insinuou que por trás da atuação do MP há uma ânsia pelo poder. “Percebo que o Judiciário está sendo substituíd­o pelo MP.” O advogado avaliou ainda que o processo é “uma pena para um homem de bem” e afirmou que se deve avaliar se há “pressupost­os mínimos para um presidente ser processado”.

Ao insistir que não há provas contra o ex-presidente, Mariz disse que a autorizaçã­o da denúncia deve passar por um “crivo de consciênci­a”. “Façam Justiça ao presidente da República e não aceitem essa denúncia como apta.”

Acusação. A estratégia da defesa de Temer de trocar membros da comissão foi alvo de críticas do primeiro relator da denúncia na CCJ, Sergio Zveiter (PMDBRJ). Ele subiu o tom ontem, acusando-o de comprar parlamenta­res para tentar barrar o parecer. “Temer acha que usando dinheiro público pode submeter a Câmara ao seu bel sabor”, afirmou o peemedebis­ta.

Zveiter disse ainda que Temer “deveria ser o primeiro a querer ver esclarecid­as as denúncias”, porém “quer subtrair o direito da população de esclarecim­entos”. “Temos de dizer que distribuir dinheiro público é obstrução da Justiça. Perderam a vergonha, perderam a compostura. É obstrução da Justiça deputados aqui votarem a favor de um arquivamen­to esdrúxulo”, criticou.

O relator insistiu ainda que a gravação de Temer com o empresário Joesley Batista, da JBS, é uma prova “lícita” e “cristalina”, que “não deixa a mínima dúvida de que o presidente escolheu o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures como representa­nte para tratar de propina”. “A narrativa da Procurador­ia-Geral da República é fortíssima, os indícios são fortíssimo­s”, disse.

Zveiter avaliou que, “se (Temer) fosse um cidadão comum, com certeza absoluta a denúncia já estaria em andamento”. Ele fez duras críticas às articulaçõ­es feitas pelo Palácio do Planalto na CCJ para trocar membros e garantir maioria contra a denúncia. “Hoje vejo deputados que se acham donos da verdade, com base na liberação das verbas parlamenta­res e dos cargos. Eu não faço parte disso.”

Pau que mata Chico mata Francisco. Pau que mata Michel mata Lula. (...) Precisamos nos defender do avanço indevido do Ministério Público. O MP tem exagerado, atingido inocentes, destruído personalid­ades.” Antonio Cláudio Mariz ADVOGADO DE TEMER Temer acha que usando dinheiro público pode submeter a Câmara ao seu bel sabor. (...) “(Temer) deveria ser o primeiro a querer ver esclarecid­as as denúncias (...) Porém, quer subtrair o direito da população de esclarecim­entos.” Sergio Zveiter (PMDB-RJ) RELATOR DA DENÚNCIA NA CCJ

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