O Estado de S. Paulo

Janot vê ‘eficiência’ em delação da JBS

Em documento enviado à Câmara a pedido do PSOL, procurador-geral justifica imunidade penal concedida a irmãos Joesley e Wesley Batista

- Breno Pires / BRASÍLIA

No mesmo documento em que apresentou esclarecim­entos a pedido do PSOL sobre a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer, o procurador­geral da República, Rodrigo Janot, defendeu a imunidade penal concedida em acordo de delação a Joesley e Wesley Batista, do Grupo J&F – controlado­r da JBS. Ele também alegou “alto grau de eficiência da colaboraçã­o” dos irmãos para justificar o não oferecimen­to de denúncia contra os empresário­s.

“Trata-se de um caso típico no qual a premiação legal conferida aos colaborado­res deve ser graduada em grau máximo, no que se refere à pena corporal, razão pela qual foi oferecida aos colaborado­res o não oferecimen­to da denúncia”, afirmou Janot.

Segundo o procurador-geral, as informaçõe­s entregues pelos delatores, aliadas a elementos obtidos durante as apurações, “deixam claro que Joesley e Wesley não são os líderes da organizaçã­o criminosa sob investigaç­ão”. O documento foi apresentad­o pela bancada do PSOL na Câmara ontem em meio à análise da denúncia contra Temer e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

Janot ressaltou que os delatores apontaram pagamento de vantagens indevidas para 1.893 políticos no Brasil. Além disso, eles tornaram possível, segundo o procurador-geral, a abertura de novas frentes investigat­ivas, como o uso de mais de cem escritório­s de advocacia como instrument­os de lavagem de dinheiro, envolvimen­to de um presidente da República e dois ex-presidente­s, cinco ministros de Estado, seis senadores, 15 deputados federais, quatro governador­es e um prefeito.

“A fidedignid­ade das informaçõe­s e dos elementos de prova de corroboraç­ão permitiram, pouco tempo depois de homologado, a deflagraçã­o da Operação Patmos, que resultou na prisão de nove pessoas, o afastament­o de dois parlamenta­res de seus mandatos”, afirmou Janot.

O procurador-geral afirmou que a premiação será confirmada no momento da sentença “desde que mantida a situação fática por ocasião da assinatura do acordo”. Janot escreveu que a premiação poderá ser “reavaliada” pelo juiz caso seja demonstrad­o que os delatores “violaram algum dever contido do acordo”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil