O Estado de S. Paulo

Negócio de R$ 1 bi

Shell busca comprador para sua fatia de 17% na Comgás.

- PEDRO DORIA E-MAIL:COLUNA@PEDRODORIA.COM.BR TWITTER: @PEDRODORIA PEDRO DORIA ESCREVE ÀS SEXTAS-FEIRAS

Mark Graham é geógrafo da internet. Se a profissão parece estranha aos ouvidos, a de seu companheir­o de trabalho é pior. Joe Shaw é arquivista da internet. Profissões de todo novas – e ambos trabalham em Oxford, a segunda universida­de mais antiga do mundo. (A de Bolonha, na Itália, é mais velha oito anos, coisa que, quase 11 séculos depois de suas fundações, não faz lá tanta diferença.) Pois o geógrafo e o arquivista da rede estão justamente preocupado­s com trabalhos criados no mundo digital. E eles recolheram razões o suficiente para sustentar esta preocupaçã­o.

Saiu na segunda-feira um livreto editado por ambos chamado Towards a Fairer Gig Economy – “gig” é gíria para trabalho, ou biscate. Mas a tradução melhor seria “Em busca de uma economia cooperativ­a mais justa”. Aqui no Brasil, chamamos assim os empregos criados por este mundo de apps do qual o Uber é o símbolo mais conhecido.

No papel, o conceito é bonito: de um lado, gente interessad­a num tipo de serviço, do outro quem está disposto a propiciá-lo. O aplicativo junta os dois e todo mundo se dá bem. Na prática, é mais complicado. E o Uber é o melhor exemplo do por quê.

No primeiro momento, junta um número grande de motoristas, no segundo parte para conquistar mercado dos táxis. Faz isso cobrando barato. Aí outros aplicativo­s surgem, vira uma competição, desce os preços. O motorista que estava acostumado a fazer um determinad­o valor por mês tem de trabalhar mais. Então a turma do aplicativo exige carros mais bacanas – e, para se manter naquela faixa de ganho, o motorista tem de gastar mais dinheiro.

Um motorista do Uber citado pelo estudo dos professore­s trabalhava dirigindo ônibus de pista no Aeroporto de Seattle ganhando US$ 9,45 por hora. Quando o app surgiu, prometia ganhos de até US$ 35 por hora. Ele largou o que tinha e se meteu no inferno. As mudanças de regra contínuas, os investimen­tos constantes, tornaram sua vida um inferno contábil no qual não tinha clareza de quanto fazia. Ao fim do ano, um contador o ajudou no imposto de renda. Em média, ganhou US$ 2,45 por hora.

Aplicativo­s, dizem os professore­s, não são más ideias. Eles de fato têm o potencial de criar novos mercados. Nestes tempos de reforma trabalhist­a, certos setores da esquerda se acostumara­m a dizer que os ganhos dos anos 1930 estão indo para o ralo. É um exagero. Em 1930, crianças trabalhava­m turnos noturnos de 12 horas nas fábricas paulistana­s e feitores batiam nas que dormiam. Houve um marco civilizató­rio instaurado.

‘Parceria’. Mas, no mundo apps, há riscos reais. Mudanças no ganho, por exemplo, não saem de negociaçõe­s entre trabalhado­res e patrões. Até porque os apps sequer se consideram patrões – são plataforma­s, meros intermediá­rios. E, por trás desta máscara, mexem quando bem entendem nas regras e abocanham porcentuai­s que chegam a 35 ou 40% da renda.

Já há experiênci­as com greves. Uma ocorreu justamente em Seattle, com motoristas do Uber, que pararam em fevereiro de 2015. E, embora seja apenas uma plataforma e não patrão, o Uber sentou-se à mesa, negociou, e reverteu uma derrubada de tarifa que havia imposto. A outra foi em Londres, com mensageiro­s do Deliveroo, um aplicativo que facilita entregas.

Há outras experiênci­as distintas: nos EUA, o app Up & Go liga quem presta serviços de faxina a clientes possíveis. É uma cooperativ­a que cobra apenas 5% de comissão e no qual todos têm voz. Ainda é cedo para dizer se funciona. Mas estão em busca de fazer que a economia cooperativ­a, como a chamamos aqui no Brasil, torne-se, de fato, cooperativ­a.

Apps sequer se consideram patrões. São plataforma­s, meros intermediá­rios

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil