‘Quem pode decretar meu fim é o povo’, afirma Lula
Em pronunciamento após ser condenado, Lula diz que, agora, vai reivindicar no PT a vaga de candidato da sigla para as eleições de 2018
Na primeira manifestação pública após ser condenado a 9 anos e 6 meses de prisão, o ex-presidente Lula disse que a sentença do juiz Sérgio Moro, “sem provas” e com um “componente político muito forte”, o incentivou a se candidatar à Presidência em 2018. Lula disse que “há uma tentativa de tirálo do jogo político”, mas quem tem o direito de decretar seu fim “é o povo brasileiro”.
Na primeira manifestação pública após ser condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a sentença do juiz Sérgio Moro – “sem provas” e com “componente político muito forte” – o incentivou a reivindicar no PT o direito de ser o candidato da legenda à Presidência em 2018.
“Há uma tentativa de me tirar do jogo político, mas quem acha que é o fim do Lula vai quebrar a cara, porque, na política, somente quem tem o direito de decretar meu fim é o povo brasileiro”, afirmou o petista durante pronunciamento na sede do partido, em São Paulo.
Cerca de 24 horas depois da divulgação da sentença de Moro relativa ao triplex no Guarujá, o ex-presidente reuniu senadores e deputados petistas e de partidos aliados, militantes da sigla e representantes de movimentos sociais. Em frente ao edifício, cerca de 300 pessoas fizeram ato de apoio ao petista.
Ao lado da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), do escritor Raduan Nassar e de seu advogado, Cristiano Zanin Martins, Lula começou o “discurso” afirmando que não se pronunciou anteontem, dia da sentença, porque queria assistir ao jogo do Corinthians e não teve “tempo”. “Primeiro vamos ver o Corinthians resolver o problema com o Palmeiras”, disse, provocando risadas e aplausos da claque que acompanhou o pronunciamento.
Ele também ironizou um trecho da sentença. “O juiz Moro tem um otimismo para comigo, porque na peça de condenação de 19 anos sem exercer um cargo significa que ele admite que eu possa ser candidato em 2036”, afirmou o petista.
Depois de um início descontraído, o petista mudou o tom para criticar o magistrado e a força-tarefa da Operação Lava Jato. Lula lembrou que, em outubro do ano passado, em um artigo publicado, ele já previa sua condenação.
Segundo o ex-presidente, seus “acusadores” criaram uma narrativa amplificada pela imprensa e não poderiam voltar atrás. “Meus acusadores estão condenados a me condenar e, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública”, disse Lula ao ler um trecho do artigo.
‘Fraude’. Antes de Lula, a presidente do PT leu manifestações internacionais de apoio ao ex-presidente que chegaram da Alemanha, Cuba, Equador, Uruguai e uma enviada pelo presidente da Bolívia, Evo Morales. Gleisi aproveitou para repetir o discurso adotado por petistas após a condenação do ex-presidente de que “uma eleição sem Lula é fraude”.
Para Lula, existe uma “caçada” contra ele como parte da disputa política. “Não é o Lula que pretendem condenar. É o projeto político que representa milhões de brasileiros. Na tentativa de destruir uma linha de pensamento estão destruindo um fundamento da democracia”, afirmou o petista.
Lula disse ainda que já imaginava como o processo ia terminar. “Prestei vários depoimentos e era visível que o que menos importava era o que você falava. Eles já estavam com a concepção da condenação pronta.” Segundo ele, o juiz usou a teoria do “domínio do fato” travestida da palavra “contexto” para condená-lo. “A única prova que tem neste processo é a prova da minha inocência”, disse. “Moro tem que prestar conta para a história.”
Sobre Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, o petista afirmou que o empresário, já condenado, o delatou após assistir a um programa na televisão que mostrou a “vida boa” de delatores. “Ora, o Léo Pinheiro pensa: ‘Por que não vou delatar? Esse Lula não é meu parente nem nada. Por que vou ficar na cadeia por causa dele?’.”
Para o petista, sua condenação é parte do “golpe” que teve início no impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff. “Eu sempre tive consciência de que o golpe não fechava. Se Lula pudesse ser candidato, o golpe não fechava”, disse.
Lula permaneceu todo o dia na sede do PT, onde recebeu aliados como o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), a senadora Jandira Feghali (PC do B-RJ) e o deputado Waldir Maranhão (PP-MA).