Curso Estado de Jornalismo Econômico
‘Estou seguindo a vida’. Abilio Diniz fala sobre o passar do tempo no especial Planeje sua Vida, feito pela 7ª turma do curso.
NA WEB. infograficos.estadao.com.br/focas/planeje-sua-vida
Abilio Diniz comemorou seus 80 anos com um evento sobre longevidade em Sintra, Portugal. Mas o ex-sócio do Pão de Açúcar e atual presidente do conselho da BRF está longe de se sentir idoso. “Não me considero nem idoso, nem velho, nem nada. Estou seguindo a vida.”
Na sua opinião, qual o impacto econômico do rápido envelhecimento da população brasileira? Hoje, é fácil passar dos 80 anos e consumindo. Este é o maior impacto: no consumo. Seja para se divertir, viajar ou comprar, mas participando da vida, assim como os jovens. Por outro lado, os que se aposentam criam um problema, pois alguém tem de pagar pela aposentadoria deles. Chega-se a um ponto em que morre menos gente do que nasce.
Em abril, em comemoração aos seus 80 anos, o senhor reuniu especialistas internacionais para falar sobre envelhecimento. Qual o objetivo?
O evento Plenitude foi pensado para que as pessoas se preocupem com o que é importante na vida. Com base em meus pilares: atividade física, alimentação, controle de estresse, autoconhecimento, espiritualidade e amor. Assim, elas poderão viver mais e com qualidade. Teremos um cara de 95 anos fazendo as mesmas coisas que aos 70. O gerontólogo Aubrey de Grey comentou no evento a teoria de que as pessoas não ficam doentes e envelhecem. Elas ficam doentes porque envelhecem. O corpo se deteriora e propicia o surgimento de mais doenças. Se você trabalhar o corpo para que ele fique mais jovem, a possibilidade de adoecer é menor. Isso tem impacto inclusive em questões governamentais. À medida que as pessoas envelhecem e adoecem, o Estado gasta mais para mantê-las, curá-las e tratá-las. O governo está preparado para este movimento?
Acho que os governos estão se preparando. Em alguns países, a conscientização se deu há mais tempo. No Brasil, a consciência de que é preciso dar mais condições de vida para o idoso é recente. Não existem aqui órgãos governamentais cuidando desse assunto.
E o lado financeiro?
Claro que dinheiro é importante. Por mais eficiente que você seja na velhice, você não vai conseguir produzir tanto quanto você produzia quando era mais novo. Qualquer um vai sofrer se não tiver recursos. A medicina nos dá hoje a possibilidade de viver muito mais. O importante é conseguir viver com qualidade, é a pessoa se preparar (para o envelhecimento). E tem muita gente que se prepara.
Especialistas dizem que deve haver uma conscientização da sociedade em aceitar que envelheceu. É o seu caso?
Isso varia. Tem muito cara que se esconde atrás da idade. Quando as pessoas me enchem o saco, por exemplo, falo: “Pô, eu sou um velhinho, não me perturba”. Se você perguntar para um colega dos meus filhos mais novos com que idade que as pessoas ficam idosas, eles vão dizer “a idade dos meus avós”. Se perguntar isso aos meus filhos – nunca perguntei, não quero mexer nesse vespeiro (risos)
–, eles provavelmente vão pensar: “Meu pai não é idoso”. Faço hoje tudo o que fazia 30 anos atrás. Quando a cabeça vai bem, os relacionamentos vão cada vez melhor. Casei há 12 anos com minha segunda mulher, tenho uma filha de 10 e um filho de 7. A minha mais velha tem 55. Isso dá uma força sem tamanho. Enquanto estiver sentindo a vida desse jeito, não me considero nem idoso, nem velho, nem nada. Estou seguindo a vida.