O Estado de S. Paulo

Crítica de Doria causa reação no PSDB

Líder do partido se queixa de entusiasmo com condenação de Lula; tucanos dizem que prefeito tenta se distanciar de colegas investigad­os

- Pedro Venceslau P.V.

O entusiasmo do prefeito João Doria com a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 9 anos e 6 meses de prisão no caso do triplex do Guarujá (SP) destoou do restante do partido e causou mal-estar no PSDB.

Vice-presidente nacional do partido, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman criticou a reação do colega. “A condenação (do Lula) nos parece correta, mas nenhum dirigente partidário se regozijou com isso. Há respeito pela história dele. Isso nos entristece. Só o João Doria se regozijou. Esse é um papel de alguém que precisa de forma obsessiva estar nas manchetes. Parece um papagaio falando”, disse Goldman.

Enquanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin, e os senadores José Serra e Aécio Neves optaram por não comentar a decisão de Moro, Doria publicou um vídeo nas redes sociais logo após a divulgação da sentença no qual afirmou que a “justiça foi feita”.

A reação de Goldman não foi isolada. Em caráter reservado, os tucanos reconhecem que não foi só por respeito a Lula que os caciques do partido se calaram, mas também por constrangi­mento. A avaliação na cúpula partidária é de que Doria tentou se diferencia­r de Serra e Aécio, que são investigad­os e até de seu padrinho político, Alckmin, que é citado na Lava Jato. Nenhum deles quis comentar a sentença.

O prefeito teria usado o episódio para se cacifar como candidato ao Palácio Planalto e se colocar como o mais antipetist­a dos tucanos. Na manhã de ontem ele subiu ainda mais o tom ao publicar um vídeo sobre Lula no qual falou em “serenidade da frieza de um mentiroso”.

Doria mandou um “recado” aos petistas: “Pensam que podem roubar, mentir, usurpar, enganar o povo brasileiro em qualquer tempo, por qualquer razão, fazendo o que fizeram com o Brasil. Olha aí o que deu”.

Porta-voz. Outra crítica feita pelo ex-governador é que Doria fala em nome do partido sem estar credenciad­o para isso. “Ele fala em nome da Executiva, do presidente, do FHC, do Geraldo (Alckmin). Fala em nome de meio mundo. Falou de uma convenção em agosto que não está marcada. Fala como se fosse porta-voz de todos, mas não é.”

Em resposta a Goldman, o prefeito de São Paulo afirmou: “Falo pelos que, como eu, querem que a justiça seja feita e os que roubaram e corrompera­m sejam punidos. Se Goldman quer algo diferente disto, lamento”, disse. no Facebook.

No mesmo vídeo, ele chamou o ex-presidente de “Luiz Inácio ‘mentiroso’ da Silva” e disse que o petista é um “usurpador”.

O tucano também comentou a declaração do vice-presidente do PT, Márcio Macedo, que disse que Lula estava com a “serenidade do inocente”. “Sabe o que alegaram? Que Lula estava sereno, a serenidade do inocente. Ora, serenidade do inocente? A serenidade da frieza de um mentiroso, de um usurpador, de um enganador do povo brasileiro”, disse, após comentar que “petistas, ‘istas’ e simpatizan­tes do Lula foram às ruas” para protestar contra a decisão.

Apoio. A iniciativa do prefeito Doria estimulou seus auxiliares e correligio­nários a fazer o mesmo: criticar Lula. “Finalmente o maior ladrão do Brasil foi condenado”, disse o prefeito regional de Pinheiros, Paulo Mathias, nas redes sociais.

“Semana perfeita: aprovação da reforma trabalhist­a e a primeira condenação do ‘coisa ruim’. Que venham muitas mais”, publicou o secretário adjunto das Prefeitura­s Regionais, Fábio Lepique./

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ALEX SILVA/ESTADAO Comemoraçã­o. Após condenação de Lula, o prefeito João Doria colocou uma bandeira nacional na varanda de seu gabinete

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