COMO A GOVERNANÇA IMPULSIONA AS EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO
Organizações com boas práticas conseguem reduzir custos e têm um retorno maior para seus investimentos
Aadoção de práticas de governança corporativa por empresas listadas na BM&FBovespa é fundamental para garantir o aporte de investidores e também para que acionistas tenham mais segurança em aplicar seus recursos. No entanto, os benefícios vão além e podem ter impacto direto no lucro da companhia. Estudo realizado pela consultoria Management &
Excellence com 300 empresas brasileiras mostra que o risco de ter perdas financeiras é entre duas e três vezes mais alto para empresas que não têm governança.
“A boa governança pode render bons lucros para a companhia, enquanto a má governança custa caro e é o maior problema do mundo financeiro hoje”, comenta o presidente da Management & Excellence, William Cox. “Quando o mundo financeiro conseguir classificar o risco da governança corporativa, os investimentos serão muito mais seguros.”
De acordo com Cox, a má governança gerou, desde 2008, perdas de US$ 20 trilhões para a economia mundial. Além disso, lembra ele, 28% dos ataques cibernéticos têm indivíduos de dentro da companhia envolvidos. “São pessoas insatisfeitas que usam seus conhecimentos sobre os sistemas para cometer crimes. A fonte desse grave problema é a má governança e a falta de políticas de recursos humanos”, considera Cox.
O presidente executivo da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Eduardo Lucano, explica que, em maior ou menor grau, todas as empresas com ações em bolsa possuem um programa de governança corporativa. “É uma exigência básica para a própria existência do negócio”, diz Lucano. Para ele, no entanto, mais importante do que o cumprimento de regras ou de um check list criado para atender às exigências do mercado é a companhia incorporar essa cultura de valores e ética à sua estrutura.
O desafio é grande, especialmente em países como o Brasil, onde a pulverização do controle acionário das empresas ainda é um processo de certa forma embrionário. Para especialistas, quanto maior a concentração acionária, maior o poder na mão de poucas pessoas e, consequentemente, podem ocorrer mais abusos. “Um polo de controle que tenha certa flexibilidade, como o grupo de acionistas minoritários, é um contraponto ao poder absoluto na mão de apenas uma pessoa”, analisa Lucano. De acordo com o presidente da Abrasca, há um movimento grande no sentido de criar mais transparência na tomada de decisões das empresas, e isso se reflete na própria sustentabilidade das organizações.
Consultores comentam ainda que há pressões do ambiente de negócios e do próprio público interno das companhias para a adoção de práticas mais sustentáveis. “Cada vez mais as empresas precisam ter práticas avançadas de governança”, avalia a professora Elismar Álvares, da Fundação Dom Cabral (FDC), coautora do livro Governança Corporativa — Um Modelo Brasileiro.
“A governança é essencial para o relacionamento com investidores, porque baliza as decisões e traz transparência para os números da empresa”, concorda Erick Myasaki, do escritório Dorta & Horta Advogados. Segundo o advogado, as empresas brasileiras estão buscando aprimoramento dos seus controles internos porque perceberam que é a melhor forma de atrair capital.
Consultores comentam que não há uma regra padrão para a criação de um programa de governança corporativa dentro das companhias, mas quatro princípios são fundamentais: transparência, equidade, responsabilidade e clareza na prestação de contas. “O importante é não confundir governança com burocracia. O Brasil tem uma vocação para burocratizar processos, com uma tendência de resolver os problemas com normas e exigências, mas esse não devia ser o caminho”, diz Lucano, da Abrasca.
“A governança é essencial para o relacionamento com investidores, porque baliza as decisões e traz transparência para os números da empresa”. ERICK MYASAKI, DORTA & HORTA ADVOGADOS: