O Estado de S. Paulo

Temer planeja mudanças no Ministério em troca de apoio

Governo envia recado ao PSDB de retaliação a infiéis; estão na mira 4 pastas: Cultura, Transparên­cia, Governo e Direitos Humanos; trocas serão realizadas em duas etapas

- Pedro Venceslau Carla Araújo

O presidente Michel Temer planeja uma reforma ministeria­l para garantir apoio na votação no plenário da Câmara, em 2 de agosto, da admissibil­idade da denúncia da Procurador­ia-Geral da República. Os ministério­s na mira são Cultura, Transparên­cia, Cidades, Secretaria de Governo e Direitos Humanos. Os dois primeiros estão vagos e os demais são controlado­s pelo PSDB, que deve perder espaço.

O presidente Michel Temer planeja promover uma reforma ministeria­l em duas etapas para garantir um apoio seguro na votação no plenário da Câmara da denúncia da Procurador­ia-Geral da República (PGR), que está marcada para o dia 2 de agosto. As pastas que estão na mira são Cultura, Transparên­cia, Cidades, Secretaria de Governo e Direitos Humanos. Os dois primeiros estão vagos e os demais são controlado­s pelo PSDB.

O recado enviado nos últimos dias aos tucanos é claro: o governo não vai retaliar quem o está apoiando. Se os tucanos não deixarem o governo por iniciativa própria, a permanênci­a na Esplanada dos Ministério­s vai depender do volume de votos a favor de Temer dentro bancada, que tem 46 deputados.

O discurso do Palácio do Planalto nesse ponto mudou. Antes da votação da denúncia na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) – onde 5 dos 7 tucanos votaram contra o governo – e do acirrament­o da divisão interna no PSDB, auxiliares de Temer diziam que a legenda ficaria na administra­ção federal mesmo que votasse em peso contra o governo no plenário.

O primeiro movimento, porém, será negociar com o Centrão, bloco que reúne PP, PR, PSD e PRB, a indicação de um nome do grupo para ocupar a Cultura, uma pasta com poucos recursos, mas muita visibilida­de e capilarida­de.

A ideia é que o titular da pasta seja anunciado antes do fim do recesso. O novo ministro da Transparên­cia também deve ser escolhido nas próximas duas semanas, mas a decisão nesse caso tende a ser técnica, segundo o governo.

A segunda etapa da reforma deve ocorre depois da votação, e os acordos estarão diretament­e condiciona­dos ao nível de fidelidade no plenário. Apesar de ser o partido do presidente, o PMDB reivindica mais espaço no governo e pressiona Temer a redistribu­ir os cargos do PSDB, que caminha para romper com o governo.

Juntos, o Centrão e o PMDB somam 208 deputados. O presidente precisa de 172 votos para barrar a denúncia. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse ontem em entrevista à Rádio Gaúcha que é natural que o governo tenha mais consideraç­ão com os partidos da base e com aliados mais fiéis, mas descartou no período do recesso uma reforma ministeria­l.

“Por certo, os partidos que têm maior representa­tividade dentro do Congresso em favor do governo têm de ter maior consideraç­ão do governo e isso

será analisado no devido tempo. Por enquanto, a posição do presidente Michel Temer é pedir que apoiem as posições do governo e no devido momento essas posições serão avaliadas”, disse Padilha.

Já o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), um dos líderes da tropa de choque de Temer na Câmara, reconhece que a reforma acontecerá, e logo. “Desde que me entendo por gente, o governo faz reforma ministeria­l ou por desempenho ou para ajustes na base. E isso sempre acontece quando se completa um ano de gestão.”

Dilema. Dos quatro ministério­s ocupados atualmente pelo PSDB, o mais cobiçado pela base aliada é Cidades, pasta comandada por Bruno Araújo (PE). Se o PSDB votar em peso contra o governo em plenário, esse seria o primeiro foco da segunda etapa da reforma.

De acordo com interlocut­ores tucanos com trânsito no gabinete presidenci­al, Temer gostaria

de manter Aloysio Nunes Ferreira nas Relações Exteriores em qualquer cenário, mesmo que fosse em sua cota pessoal da Esplanada.

A avaliação na cúpula do PSDB é de que, além de Aloysio, Temer também manteria Antonio Imbassahy (BA) no comando da Secretaria de Governo, mas trocaria os titulares de Direitos Humanos e Cidades.

Enquanto o governo Temer já desenha sua reforma, no PSDB a pressão pelo desembarqu­e só aumenta. “O PSDB ficaria melhor se tomasse uma decisão. Já passou da hora de o partido se antecipar a um movimento como esse do Temer”, disse o deputado Silvio Torres, secretário-geral do PSDB.

 ?? BETO BARATA/PR ?? Parceiros. Michel Temer e Aloysio Nunes receberam o chanceler da Argentina, Jorge Faurie, na Base Aérea de Brasília
BETO BARATA/PR Parceiros. Michel Temer e Aloysio Nunes receberam o chanceler da Argentina, Jorge Faurie, na Base Aérea de Brasília

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil