O Estado de S. Paulo

Governo propõe redução de floresta

Ambiente. Após pressão de produtores rurais do Pará, nova proposta transforma 349 mil hectares do Jamanxim em Área de Proteção Ambiental, nível menos restritivo de conservaçã­o; valor é menor que a MP vetada pelo presidente e maior que plano inicial

- Giovana Girardi

O governo enviou ao Congresso projeto de lei para transforma­r 349.046 hectares da Floresta Nacional do Jamanxim (PA) em Área de Proteção Ambiental.

Pouco menos de um mês após o presidente Michel Temer vetar a Medida Provisória 756, que reduzia a Floresta Nacional (flona) do Jamanxim, no Pará – e uma semana após oito viaturas do Ibama terem sido queimadas na BR163, perto da região –, o governo cedeu à pressão de produtores rurais do entorno da unidade e enviou ao Congresso, projeto de lei com nova sugestão de redução da floresta. Os produtores rurais afirmaram não estar satisfeito­s com a nova proposta, assim como os ambientali­stas.

O texto prevê uma mudança nos limites da floresta, levando a uma redução de 349.046 hectares. Essa área será transforma­da em Área de Proteção Ambiental (APA), o nível menos restritivo de unidade de conservaçã­o. Essa passa a ter 953.613 ha. É um corte menor que o proposto na versão final da MP, depois de ser modificada no Congresso, que pedia a redução de 486 mil hectares, mas maior do que dizia o texto original do governo, de 304 mil hectares.

Ontem, logo depois de saberem do envio do PL, os manifestan­tes desfizeram o bloqueio e o fluxo na Rodovia BR-163 foi retomado. Na opinião de Gelson Dill, vice-prefeito da cidade de Novo Progresso, o maior município da região, o texto “não satisfaz os anseios dos produtores, mas ameniza bastante”. De acordo com Dill, vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais do município, o ideal era a medida provisória aprovada no Congresso, e o grupo deve pedir a deputados ruralistas emendas ao projeto de lei.

O PL foi apresentad­o após duas semanas de pressão por parte de produtores rurais do Pará. De um lado, no Congresso, havia a ameaça de que o veto de Temer seria derrubado. Em campo, proprietár­ios de terra da região no entorno de Jamanxim vinham promovendo bloqueios de 24 horas em vários pontos da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém, pedindo a apresentaç­ão do PL. A promessa tinha sido feita pelo próprio ministro Sarney Filho, em vídeo em que aparecia ao lado do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA),

na véspera do veto de Temer. Sarney Filho anunciava que a MP seria vetada, mas que um PL seria apresentad­o nos mesmos termos.

Dias depois, porém, ele disse que isso somente ocorreria depois

do parecer técnico do Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Na madrugada de sexta passada, oito novas viaturas que seriam entregues ao Ibama foram incendiada­s na BR-163, no que foi visto pelo órgão como um atentado – em protesto contra os vetos.

Por meio de nota, o Ministério do Meio Ambiente disse que o objetivo é resolver conflitos existentes desde a criação da floresta nacional, em 2006, delimitada em uma área onde havia algumas propriedad­es, que deveriam ter sido indenizada­s. De lá para cá, a situação só piorou, e Jamanxim é a unidade de conservaçã­o onde mais cresceu a taxa de desmatamen­to nos últimos anos, segundo o Prodes, sistema de monitorame­nto do desmatamen­to do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

A justificat­iva é citada no PL. “A área tem sido palco de recorrente­s conflitos fundiários e de atividades ilegais de extração de madeira e de garimpo associados à grilagem de terra e à ausência de regramento ambiental. Com reflexos na escalada da criminalid­ade e da violência contra agentes públicos, sendo necessária a implementa­ção de políticas de governo adequadas para essas questões.”

Os primeiros cálculos do (ICMBio), que balizaram o texto original da MP, sugeriam que uma redução de 35 mil hectares seria o suficiente para resolver o conflito. Segundo ambientali­stas, a área dez vezes maior vai regulariza­r grileiros que chegaram após a criação da floresta nacional.

O ministério disse que o PL teve como base novos estudos do ICMBio. “Vários cenários foram elaborados, consideran­do a relação entre o número de ocupações e o tamanho da área a ser excluída. Na proposta atual, refinamos a análise, mantendo os mesmos critérios, procurando excluir as áreas mais ocupadas, sem com isso perder muito da área original da unidade”, complement­ou a pasta, após ser questionad­a sobre a diferença de valores.

O ministério disse ainda que a área transforma­da em área de proteção ambiental “poderá permitir a regulariza­ção fundiária destas áreas”. “A área da floresta nacional, por sua vez, passará a atender os objetivos que motivaram sua criação, voltados para o manejo sustentáve­l, inviabiliz­ados em função do conflito instalado”.

Críticas. Ambientali­stas temem que isso aconteça e a redução final seja ainda maior, como ocorreu com a MP. “O governo está encurralad­o e só liga para atender às pressões do Congresso”, diz Paulo Barreto, pesquisado­r do Imazon. Ele e colegas calcularam quanto pode ser o ganho para quem está na região se o PL for aprovado.

Pela conta – consideran­do que APA permite a presença de propriedad­es privadas –, se o governo vender as terras ocupadas pelas regras atuais dará subsídio de pelo menos R$ 500 milhões a posseiros. Foi considerad­a a possibilid­ade de regulariza­ção fundiária prevista na MP 759, sancionada na terça por Temer, que prevê que grandes porções de áreas públicas invadidas na Amazônia sejam legalizada­s. Pela lei, podem ser cobrados apenas de 10% a 50% dos valores aplicados pelo Incra, já mais baixos do que os valores praticados pelo mercado. Assim, em vez de pagar por um hectare de terra cerca de R$ 1,8 mil, grileiros poderiam pagar algo entre 10% e 50% de R$ 672 o hectare – o valor do Incra.

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NACHO DOCE/REUTERS - 21/6/2013 Corte e fiscalizaç­ão. Expectativ­a de ministério é que o projeto ajude a minimizar conflitos
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