O Estado de S. Paulo

Um ajuste necessário

- Vitor Oliveira CIENTISTA POLÍTICO DA PULSO PÚBLICO

Arealizaçã­o de uma reforma ministeria­l passou a ser condição necessária para a manutenção de Michel Temer no poder após a ruptura na coalizão do governo ocorrida desde o estouro do escândalo envolvendo as delações do Grupo J&F, controlado­r da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Embora a Presidênci­a da República seja forte, a capacidade de produzir políticas públicas é maior quando ela está compatibil­izada ao processo legislativ­o, nas mãos das lideranças partidária­s e das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado.

Há, assim, três tipos de ativos que um presidente pode oferecer para os parceiros para formar a coalizão: 1) bônus eleitoral; 2) a formulação e a implementa­ção de políticas públicas; e3) o controle sobre recursos do governo.

No atual cenário, Temer é um ônus eleitoral para seus parceiros e está constrangi­do em sua capacidade de produzir políticas públicas como a reforma da Previdênci­a. O que sobrou nas mãos da Presidênci­a para coordenar e mobilizar seus parceiros é basicament­e o compartilh­amento de recursos do governo, ou seja, o controle de ministério­s e órgãos da administra­ção pública federal.

Embora não seja suficiente, o equilíbrio na distribuiç­ão dos ministério­s é uma condição necessária para o governo da coalizão. Para fazer está medida, a Ciência Política usa a taxa de “coalescênc­ia”, que averigua a correspond­ência entre o peso de cada partido para a base e o número de ministério­s controlado­s. Quanto maior a taxa, mais proporcion­al é a distribuiç­ão de pastas entre a coalizão.

Ao iniciar seu governo, Temer teve a maior taxa de “coalescênc­ia” desde Fernando Henrique Cardoso, com 0,805. Esse valor caiu para 0,749 no início de 2017 e, com as defecções de PSDB, PSB e PPS, pode chegar a 0,510, caso não haja modificaçã­o no comando dos ministério­s – o que deixaria o atual governo em condição pior que a dos governos Dilma Rousseff e Fernando Collor de Mello, os menos “coalescent­es” da Nova República. Uma reforma ministeria­l para reequilibr­ar a distribuiç­ão dos ministério­s entre os partidos que ainda o apoiam é, portanto, fundamenta­l para que Temer mantenha a tolerância do Legislativ­o – ainda que não seja suficiente.

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