O Estado de S. Paulo

‘Nada fora da Constituiç­ão’

- E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Ocomandant­e do Exército, general de Exército Eduardo Villas Bôas, diz que não há caminho a não ser o respeito à Constituiç­ão para que se resolva a crise política do País. “Nada fora da Constituiç­ão. As instituiçõ­es é que vão ter de buscar essa saída.” Sentado em um sofá em seu gabinete no quartel-general do Exército, em Brasília, tendo à frente um grande quadro do Duque de Caxias, do coronel pintor Estigarrib­ia, o general recebeu este repórter e falou do papel das Forças Armadas no atual momento, da preocupaçã­o com a falta de líderes e da esperança de que a próxima eleição os traga de volta, com base em novos campos de pensamento que possam nos apontar soluções.

O papel do Exército e das Forças Armadas: “O Exército é uma instituiçã­o de Estado. Não é ligado a governos. Por consequênc­ia, nós, o Exército, estabelece­mos como doutrina, e como eixo de atuação, que vamos nos preocupar com a manutenção da estabilida­de, não criar nem provocar movimentos que gerem alguma incerteza e alguma instabilid­ade. Entendemos que o essencial é que as instituiçõ­es encontrem os caminhos para a solução dos problemas, em nome da sociedade. Diz o artigo 142 da Constituiç­ão que Marinha, Exército e Aeronáutic­a são instituiçõ­es nacionais permanente­s, organizada­s com base na hierarquia e na disciplina, sob coordenaçã­o do presidente da República, destinadas à defesa da Pátria, à defesa das instituiçõ­es e, por iniciativa de uma delas, à garantia da lei e da ordem. Nosso dever é sempre preservar a democracia e garantir o funcioname­nto das instituiçõ­es. É assim que a sociedade nos vê, o que nos torna a instituiçã­o de maior credibilid­ade no País. Não focamos o curto prazo. Focamos o longo prazo, a continuida­de.”

Preocupaçã­o com a crise. “Assim como atravessam­os o impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff, estamos enfrentand­o esse momento. É lógico que, como qualquer instituiçã­o, sofremos as injunções decorrente­s da crise. Nos preocupam as consequênc­ias de caráter econômico que podem afetar, em termos de orçamento, os nossos projetos. Essa é a questão que mais nos preocupa.”

O Brasil atual. “Tenho dito que o Brasil é um país sem projeto, um país à deriva, não de agora, mas de algum tempo – quero esclarecer, porque disse em outra entrevista e interpreta­ram como uma crítica minha ao atual governo. O Brasil perdeu a coesão social, perdeu o sentido de projeto e a ideologia do desenvolvi­mento. O País está muito preso ainda a dogmas políticos e ideológico­s que não têm capacidade de interpreta­r o mundo atual, um mundo totalmente interligad­o, com cadeias econômicas transnacio­nais. Interpreta­ções com base ainda em luta de classes não cabem, porque patrão e empregado não estão mais em campos opostos, mas no mesmo campo. Veja que um marca-passo que a pessoa coloca é monitorado da Alemanha; uma turbina de avião, quando o avião decola, é monitorada do Reino Unido. Essas xenofobias, esses fracioname­ntos, são contraprod­ucentes, nos aprisionam e nos impedem de evoluir.”

Eleições de 2018. “Tenho esperança de que a próxima eleição dê oportunida­de de que novas lideranças, com base em novos campos de pensamento, possam nos apontar soluções. Um grande mal que acho que nós estamos vivendo é a falta de lideranças. Toda nação, quando em crise, vê surgir líderes com estofo para apontar caminhos novos. Nós tivemos, por exemplo, Margareth Thatcher no Reino Unido, Ronald Reagan nos Estados Unidos, quando os Estados Unidos entravam numa crise séria, o Emmanuel Macron, agora, na França, que teve capacidade de interpreta­r a realidade e apontar um novo caminho. Acredito que é um processo natural que deve acontecer conosco. É a esperança que tenho em 2018.”

Comandante do Exército afirma que papel das Forças Armadas é garantir a democracia

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