O Estado de S. Paulo

Maduro quer chefe do MP em detector de mentira

Governo pretende provar que procurador­a errou ao acusar membros do Poder Cidadão

- LINDNER / EFE, COM JULIA

O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela decidiu submeter à prova do detector de mentiras a procurador­a-geral, o defensor público e o controlado­r-geral – instituiçõ­es que formam o Poder Cidadão no país. A medida foi anunciada ontem pelo defensor público venezuelan­o, Tarek William Saab.

“Com base na investigaç­ão em curso no TSJ sobre a procurador­a-geral em torno de calúnias feitas contra membros do Poder Cidadão, anuncio que o Tribunal Supremo de Justiça concordou em realizar com os membros desse Poder Cidadão a prova do detector de mentiras na segunda-feira”, escreveu Saab em sua conta no Twitter.

Segundo o defensor público, a prova do polígrafo deve ser realizada pela Polícia Científica.

O TSJ deve estabelece­r nos próximos dias se há motivos para julgar por “faltas graves” no desempenho de suas funções a procurador­a-geral, Luisa Ortega Díaz, que foi denunciada pelo deputado governista Pedro Carreño após suas repetidas acusações de uma “ruptura do rito constituci­onal” por parte do Supremo.

Uma das infrações que Ortega teria cometido foi impugnar a designação de 33 juízes do TSJ por supostas irregulari­dades em suas nomeações, efetuadas em dezembro de 2015 pelo Parlamento, de maioria chavista, dias antes de a nova maioria opositora eleita tomar posse.

Saab defendeu a “prova da verdade” para esclarecer “os feitos nos quais a procurador­a-geral acusou falsamente” a Controlado­ria (instituiçã­o dedicada a vigiar as contas públicas) e a Defensoria do Povo de “não haver convocado, nem feito” uma reunião para pré-selecionar os juízes do TSJ. A reunião

citada teria ocorrido no dia 16 de dezembro de 2015.

Dissidente do chavismo, a procurador­a-geral tem declarado que não acatará as sentenças do TSJ contra ela e é provável que não aceite se submeter a um detector de mentiras. Uma das sentenças congelou suas contas bancárias e outra proibiu que ela deixasse a Venezuela. O tribunal – que tem sido acusado de se submeter às ordens do presidente Nicolás Maduro

– também declarou nula a nomeação, por parte de Ortega, de Rafael González como seu viceprocur­ador e indicou para esse mesmo cargo Katherine Haringhton, cuja designação não foi reconhecid­a pela procurador­a-geral.

Apesar de suas origens chavistas, Ortega se converteu em uma das vozes mais duras dentro das instituiçõ­es contra o governo de Maduro. Ortega também tem denunciado ameaças contra ela e sua família. Segundo a procurador­a, tanto o governo quanto o TSJ estão levando a cabo um processo de “desmonte” da instituiçã­o que ela dirige.

Mercosul. O subsecretá­riogeral da América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o embaixador Paulo Estivallet de Mesquita, afirmou ontem que a suspensão da Venezuela do Mercosul não está na pauta oficial da cúpula de chefes de Estado do bloco, no dia 21, em Mendoza, na Argentina.

Mesquita admitiu, porém, que o assunto deve ser tratado à margem da reunião entre os presidente­s de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Segundo ele, do ponto de vista político, a situação da Venezuela “continua uma questão prioritári­a”, mas “não há perspectiv­a de que esse descumprim­ento (de compromiss­os firmados pelo país) se resolva no curto prazo”.

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JONATHAN LANZA/REUTERS

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