O Estado de S. Paulo

Um original drama familiar

‘Fala Comigo’ trata do amor entre mulher mais velha e um jovem

- Luiz Carlos Merten

Karine Telles ganhou seu segundo prêmio de melhor atriz no Festival do Rio por Fala Comigo. O longa de Felipe Scholl estreou na quinta, 13, nacionalme­nte em 23 salas. A ideia, dependendo da aceitação, é ampliar o circuito na segunda semana. Fala Comigo começou a nascer em 2005 – há 12 anos. Scholl havia feito o curso de roteiro na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio. Naquela época, pensava ser só roteirista. Escreveu Hoje, o longa de Tata Amaral no período em que morou em São Paulo. Foi quando conheceu Denise Fraga, que faz a mãe em Fala Comigo.

O filme é sobre a ligação de um garoto com uma mulher madura – da idade de sua mãe, na faixa dos 40 anos. “É pessoal, mas não autobiográ­fico. Já cansei de esclarecer isso. Quando me conhecem, as pessoas identifica­m muita coisa minha no Diogo. Não tem nada a ver. Fala Comigo não se inspira em nenhuma pessoa que tenha conhecido, mas com certeza é produto de observação de pessoas ao meu redor.” Denise foi a primeira atriz a quem Scholl ofereceu o papel de Clarice, a mãe terapeuta. Diogo tem essa mania de ligar para as pacientes da mãe e jogar alguma conversa fora a partir das anotações que ela faz. Envolve-se com Ângela. A coisa fica séria. A mãe surta.

Clarice é uma personagem autoritári­a. “Precisava de uma atriz que lhe desse uma voz e fizesse o público se interessar por ela. Uma atriz que a humanizass­e, senão ficaria insuportáv­el, o estereótip­o da vilã.” Denise Fraga veio com tudo para fazer a personagem. “Como trabalho muito com o Luiz (Vilaça, seu marido e diretor de filmes e programas de TV), as pessoas acham que só quero saber de projetos com ele. Mas não é verdade. Adoro conhecer outros métodos, é estimulant­e como atriz.”

Só que, agora mesmo, Denise trabalha com o marido como diretor – mas num projeto de teatro. Dentro de um mês, em 15 de agosto, estreiam A Visita da Velha Senhora, baseada num dos grandes textos do suíço Friedrich Dürrenmatt. A peça foi encenada no Brasil apenas uma vez – em 1962 –, dois anos antes da adaptação que o alemão Bernhard Wicki fez com Ingrid Bergman e Anthony Quinn. A trama tem tudo a ver com a atual situação do País. Uma cidade arruinada pela corrupção e por desmandos administra­tivos aguarda a visita da velha senhora que, no passado, foi dali expulsa. Volta rica, poderosa e para se vingar dos que a humilharam.

Não tem exatamente a ver com a psiquiatra de Fala Comigo. Não? A psiquiatra quer impor seu discurso sobre o filho e a paciente, exatamente como emasculou o marido. E a paciente? “Veja como são as coisas. Karine foi a primeira que fez a leitura do roteiro. É minha amiga, mas lá atrás era muito jovem para o papel. Tinha somente 26 anos. Passou-se tanto tempo que hoje, aos 37, ela ficou perfeita na pele de Ângela.

O júri do Rio, no ano passado, atribuiu-lhe o Redentor de melhor atriz, seu segundo, após o de Riscado, em 2010. Fala Comigo também foi melhor filme. Tom Karabachia­n, o garoto, foi escolhido por teste. É um filme que fala de afetos e perversões, e também faz avançar o debate feminista. Apesar dos elogios, Scholl diz que ainda engatinha na direção. “Sinto-me mais à vontade na escrita e na interpreta­ção, porque eu mesmo fui ator.” Para quem ainda tem o que aprender, seu filme é muito bom.

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VITRINE FILMES Casal. Os pais Denise Fraga e Emílio de Mello

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