O Estado de S. Paulo

ADVOGADO DE TEMER ADVOGA PARA ADVOGADO DE LULA

Antônio Claudio Mariz defende Roberto Teixeira no caso do sítio de Atibaia

- Fabio Leite Ricardo Brandt

No espectro político dos seus clientes, eles estão agora em lados opostos. Desde os tempos da Faculdade de Direito da Pontifícia Universida­de Católica de São Paulo (PCU-SP) e agora em um dos mais rumorosos casos da Lava Jato eles estão juntos. O advogado de Michel Temer advoga para o advogado de Luiz Inácio Lula da Silva. Antônio Claudio Mariz de Oliveira, defensor do presidente, está fazendo a defesa de Roberto Teixeira, um dos defensores do ex-presidente, no inquérito do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP).

“Sou advogado, hoje, do Roberto, que é meu amigo e colega de turma na faculdade. Amanhã posso ser advogado do Lula e do Temer ao mesmo tempo”, afirmou Mariz.

Tanto o renomado criminalis­ta quanto Teixeira evitaram falar sobre o assunto. “Nada a declarar. Só quero lembrar o seguinte, o Mariz é meu colega de turma, somos da turma de 1969 da PUC. Fomos formados juntos. Aliás, ele e a esposa dele. Ele é casado com uma colega de turma. A relação é muito grande de longa data”, disse.

Mariz e Teixeira estão afinados em outro grupo: a dos juristas críticos ao que chamam de abusos da Lava Jato às garantias individuai­s e ao direito de defesa.

O escritório Teixeira, Martins & Advogados, do amigo e compadre de Lula, é um centro de defesa do ex-presidente e combate ao juiz federal Sérgio Moro – que na semana passada condenou o petista a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). A sentença foi tachada de “perseguiçã­o política” pelos advogados de Lula.

Mariz, por sua vez, é um crítico contundent­e da atuação do Ministério Público Federal. Na defesa do amigo Temer – denunciado por corrupção passiva com base na delação dos acionistas do Grupo J&F –, o advogado tem acusado a Procurador­iaGeral da República de “extrapolar” suas prerrogati­vas.

Na quinta-feira passada, o advogado do presidente usou a sustentaçã­o na Comissão de Constituiç­ão de Justiça (CCJ) da Câmara para apontar uma “cultura punitiva” no País. Fez ali um ataque indireto ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e um apelo a políticos contra “o avanço indevido do Ministério Público”. “Pau que mata Chico mata Francisco. Pau que mata Michel mata Lula.”

Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ex-secretário da Justiça e de Segurança em São Paulo, o criminalis­ta foi um dos protagonis­tas de um evento no restaurant­e A Figueira Rubaiyat, nos Jardins, que reuniu também os advogados de Lula, Dilma Rousseff e Aécio Neves.

O jantar foi convocado como ato em desagravo aos defensores do ex-presidente petista. Mariz puxou a fila das críticas a Moro, sem citar o titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba. “Esse homem, que deve ter suas qualidades, tem defeitos como magistrado incompatív­eis com a magistratu­ra. Falta-lhe algo que se chama imparciali­dade.”

Denúncia. Moro ainda não decidiu se aceita ou não a denúncia da Procurador­ia da República. Teixeira foi acusado formalment­e, com o ex-presidente, os empreiteir­os Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht e José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, da OAS, entre outros denunciado­s. Lula é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no esquema na Petrobrás.

A força-tarefa em Curitiba reuniu elementos que considera provas de que Schahin, Odebrecht e OAS pagaram R$ 1,02 milhão em reformas do sítio, em contrapart­ida a contratos da estatal. Lula nega ser o dono do imóvel, registrado em nome de dois sócios dos filhos do petista.

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