O Estado de S. Paulo

Em 13 dias de julho, governo libera R$ 2 bi

Valor no período é maior do que total de emendas empenhadas, R$ 1,906 bilhão, durante todo o ano de 2017

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Sob a expectativ­a de votar a denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara, o governo acelerou a liberação de emendas parlamenta­res neste mês. Apenas nos 13 primeiros dias de julho foram empenhados quase R$ 2 bilhões. A oposição disse que vai acionar o Ministério Público Federal para barrá-las.

O valor exato, R$ 1,971 bilhão, já é maior do que empenhado neste ano inteiro – R$ 1,906 bilhão; R$ 1,8 bilhão desse montante foi liberado ao longo do mês de junho, após vir à tona a delação do empresário Wesley Batista, um dos donos da JBS, que deu origem à denúncia apresentad­a contra o peemedebis­ta. A informação foi antecipada ontem pelo jornal O Globo e o levantamen­to também foi confirmado pelo Estado.

O dia de maior movimentaç­ão foi 7 de julho, uma sexta-feira. Foram R$ 857 milhões naquele dia. Na segunda-feira, 10, quando o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) apresentou o seu parecer pela admissibil­idade da denúncia na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ), foram R$ 621 milhões. Na véspera da votação no colegiado, dia 12, foram R$ 248 milhões.

As emendas são os principais recursos destinados a deputados e senadores para que possam viabilizar obras em seus redutos

eleitorais. O valor previsto para emendas neste ano é de R$ 6,3 bilhões, cerca de R$ 10,5 milhões por parlamenta­r.

Pelas regras das emendas impositiva­s, todos os parlamenta­res, independen­temente de serem da base ou da oposição, têm o direito de receber o mesmo valor até o fim do ano. O governo, no entanto, tem o poder de controlar quando esses recursos serão empenhados.

Quanto antes o parlamenta­r conseguir esse empenho, mais rapidament­e poderá ter acesso ao recurso. Por isso, esse tipo de transação é visto como uma espécie de moeda de troca entre o Planalto e o Congresso.

Para o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), o governo usa recursos públicos para tentar barrar o andamento da denúncia na Câmara. “Pelo aumento explosivo de recursos destinados ao pagamento de emendas parlamenta­res, fica evidente a tentativa do governo de garantir apoio de deputados para impedir que Temer responda por seus crimes no STF.”

O governo nega que o valor empenhado em julho tenha relação com a tramitação da denúncia. “Eu não olho isso. O que está em condições de ser pago, nós estamos liquidando”, afirmou o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy. O ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, também negou que haja relação. “O empenho de emendas é obrigatóri­o e ocorre durante todo o ano.”

O governo ainda precisa barrar o seguimento da denúncia no plenário da Câmara. Para isso, são necessário­s votos de pelo menos 172 dos 513 deputados.

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