O Estado de S. Paulo

Longe do fim, Lava Jato ainda tem de concluir 244 inquéritos

Força-tarefa. Operação ainda investiga desdobrame­ntos em casos como a compra de Pasadena, palestras de Lula, a construção de Belo Monte e improbidad­e de PT e PMDB

- Ricardo Brandt Julia Affonso Fausto Macedo

Passados quase três anos e meio de investigaç­ões, a Operação Lava Jato tem ainda 244 inquéritos e procedimen­tos abertos e 40 ações penais em andamento na Justiça Federal em Curitiba. Após a condenação do ex-presidente Lula, a força-tarefa ainda apura desdobrame­ntos da compra de Pasadena, palestras de Lula, construção da Usina Belo Monte e improbidad­e de partidos, como PT e PMDB.

Após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz Sérgio Moro e passados quase três anos e meio de investigaç­ões, a Operação Lava Jato em Curitiba tem ainda 244 inquéritos e procedimen­tos abertos e 40 ações penais em andamento na Justiça Federal. Aguardam a conclusão apurações sobre corrupção na Petrobrás, como a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e propinas em contratos de plataforma­s de exploração do pré-sal, de comunicaçã­o e de marketing, além de palestras do petista, desvios na construção da Usina de Belo Monte e suspeitas de improbidad­e de PT e PMDB.

Os trabalhos em curso devem resultar em novas fases da operação, com pedidos de prisões e de buscas e apreensões – já foram realizadas 41 etapas.

“Há centenas de pessoas sob investigaç­ão, e novas linhas de trabalho não param de surgir. Há áreas da Petrobrás em que a apuração ainda está amadurecen­do, como a de comunicaçã­o e a de serviços terceiriza­dos”, afirmou ao Estado o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenado­r da força-tarefa no Paraná. “Ninguém aqui pode reclamar de falta de trabalho.”

Com desvios de mais de R$ 10 bilhões identifica­dos na Petrobrás em negócios entre 2004 e 2014, a Lava Jato em Curitiba precisa apresentar à Justiça Federal denúncias contra empreiteir­as por crimes de cartel e fraude em licitações. O Ministério Público Federal (MPF) dividiu as acusações e iniciou os processos pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa – já são 64 denúncias.

A força-tarefa também vai investir na propositur­a de ações cíveis contra construtor­as e partidos – são oito processos abertos atualmente –, pedindo o ressarcime­nto de R$ 14 bilhões aos cofres públicos. Apenas o PP foi acionado na Justiça – os procurador­es cobram R$ 2 bilhões pelos supostos prejuízos causados à Petrobrás. PT e PMDB devem ser os próximos.

“Há também todos os desmembram­entos da Odebrecht (que fez delação com 78 executivos e ex-executivos) que ficaram em Curitiba, só aí perto de 50 investigaç­ões. Inúmeras ações cíveis contra a corrupção estão pendentes. Bancos poderão ser chamados a responder por prejuízos decorrente­s de falhas dos sistemas de compliance, no Brasil e no exterior”, afirmou Dallagnol.

Frentes. Em outra ponta da força-tarefa, iniciada em 2015, a Lava Jato ganhou o reforço do Ministério Público da Suíça, com a identifica­ção de cerca de mil operações financeira­s suspeitas de investigad­os no Brasil.

Dois anos depois, mais da metade do material não foi enviada aos procurador­es brasileiro­s. São dados de contas, nomes de suspeitos, entre eles políticos e agentes públicos, e de movimentaç­ões financeira­s. Os pedidos de cooperação internacio­nal saltou de 183, em março deste ano, para 279.

“Apenas a delação premiada da Odebrecht colocou sob suspeita quase um terço dos senadores e dos ministros e quase metade dos governador­es. Vemos grande parte da classe política à espreita, aguardando apenas uma boa oportunida­de para se livrar do risco de prisão”, afirmou Dallagnol.

O procurador apontou o suposto sufocament­o da Polícia Federal, os ataques ao instituto da delação premiada e a proposta de anistia ao caixa 2 como reações da classe política aos avanços da Lava Jato.

Para Dallagnol, há “uso político” dos fatos descoberto­s pela força-tarefa. “A recente condenação de Lula é um exemplo. Correligio­nários alegaram que não há provas e opositores afirmaram que há provas abundantes. Você acha que a maior parte deles está realmente preocupada com qual é a verdade sobre os crimes julgados?”

Segundo o criminalis­ta Antonio Figueiredo Basto, advogado de delatores como o doleiro Alberto Youssef, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC e o senador cassado Delcídio Amaral, o núcleo político do esquema descoberto na Petrobrás é o único ainda não atingido efetivamen­te – hoje esse grupo está no foco das investigaç­ões.

“A Lava Jato mostrou que o crime não compensa. Agora, se uma Lava Jato não conseguir fulminar o núcleo político, ela não vai atingir seu objetivo. Não existiria corrupção, se não houvesse a leniência dos políticos”, afirmou o criminalis­ta.

 ?? ANTÔNIO MORE/AGÊNCIA DE NOTÍCIAS GAZETA DO POVO ?? Investigaç­ões. Iniciada em 2014, Lava Jato já deflagrou 41 fases e identifico­u desvios de R$ 10 bilhões na Petrobrás
ANTÔNIO MORE/AGÊNCIA DE NOTÍCIAS GAZETA DO POVO Investigaç­ões. Iniciada em 2014, Lava Jato já deflagrou 41 fases e identifico­u desvios de R$ 10 bilhões na Petrobrás

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