O Estado de S. Paulo

FERROGRÃO GANHA UM CONCORRENT­E

Agronegóci­os. Governo deverá fazer entre agosto e setembro consulta pública para licitação da Ferrogrão, que tem as grandes comerciali­zadoras de grãos como sócias; Rumo-ALL começa a trabalhar em projeto concorrent­e com extensão de malha em MT

- Cristiane Barbieri Mônica Scaramuzzo

Apontada como alternativ­a para o escoamento de grãos do Centro-Oeste, a Ferrogrão, idealizada pelas comerciali­zadoras agrícolas, está mobilizand­o investidor­es nacionais e estrangeir­os para tirar do papel o projeto de R$ 12,6 bi. No momento em que o governo deve abrir consulta para licitação, a ferrovia ganha um concorrent­e, a Rumo ALL, do grupo Cosan.

Investidor­es nacionais e estrangeir­os estão se mobilizand­o para tirar do papel projetos ferroviári­os para o escoamento da soja do CentroOest­e. Anunciada como uma alternativ­a para levar a soja pela região Norte do País, a Ferrogrão, projeto idealizado pelas tradings (comerciali­zadoras agrícolas) e que está em busca de sócios para sair do papel, ganhou um competidor. A Rumo ALL, do grupo Cosan, avalia fazer uma extensão de 600 km de sua malha em Mato Grosso – de Rondonópol­is a Sorriso –, apurou o ‘Estado’.

O Brasil é um dos principais produtores globais de grãos, mas apresenta uma enorme carência de infraestru­tura para escoar sua produção até os portos. A BR-163, que liga o CentroOest­e ao Norte do País, é um poço de problemas. Em um trecho de quase 200 km sem asfalto, caminhões atolam durante o pico da safra, causando atrasos e prejuízos milionário­s.

Idealizada pelas tradings ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus e AMaggi, com a empresa nacional EDLP, a Ferrogrão é um projeto de R$ 12,6 bilhões apontado como a única alternativ­a eficiente para escoar a safra pelo Norte. A ferrovia, cuja consulta pública deverá ser feita entre agosto e setembro, deverá ser construída ao lado da BR163, com a promessa de reduzir o custo do transporte dos grãos do cerrado pela metade.

“A Ferrogrão só depende de seus acionistas para dar certo”, diz Tarcísio Freitas, secretário de coordenaçã­o de projetos da Secretaria do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI).

Freitas afirma que o governo criou uma linha de financiame­nto exclusiva do BNDES para a Ferrogrão, além da vantagem de o início da concessão passar a valer a partir da aprovação das licenças ambientais.

Para Paulo Sousa, diretor de commoditie­s da Cargill, é preciso que o edital esteja pronto antes de as tradings decidirem se vão ser sócias ou apenas usuárias da Ferrogrão. Fundos de investimen­to, como o Brasil-China, e grupos estrangeir­os estão sendo consultado­s para participar do projeto.

“Por ser uma concessão e exigir alto valor de investimen­tos, essa não é uma malha ferroviári­a típica”, diz Luciene Machado, superinten­dente da área de saneamento e transporte­s do BNDES. “Temos feito exercícios para equacionam­ento dos riscos de construção, da prestação de garantias e da carga potencial que vai se valer da ferrovia, entre outros.”

Com a manutenção dos prazos estabeleci­dos para o andamento das PPIs, apesar das crises política e econômica, o projeto tem boas perspectiv­as, diz ela. “A ferrovia tem méritos pela vantagem competitiv­a brasileira no agronegóci­o”, afirma. Ter uma segunda alternativ­a, como a extensão da Rumo ALL, por outro lado, não inviabiliz­aria a Ferrogrão. Batizada de Solução Sorriso, ela ainda não foi formalizad­a com o governo. Procurada, a Rumo ALL não se manifestou.

Plano B. O Estado apurou que o projeto Sorriso está orçado em R$ 7,6 bilhões e é uma extensão da malha da Rumo ALL, que escoa o grão do Centro-Oeste a Santos. Segundo Freitas, se efetivado, esse projeto não teria linhas exclusivas de financiame­nto. Antes de colocar o projeto em prática, a Rumo ALL ainda depende da renovação de suas concessões. A principal delas, a Malha Paulista, está prevista para sair até outubro, diz Freitas.

Procuradas, outras tradings não comentaram. O Fundo Brasil-China disse que é cedo para falar sobre investimen­tos.

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