O Estado de S. Paulo

A convalesce­nça, o BC e o FMI

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O Brasil pode ter saído da UTI econômica, mas sua recuperaçã­o continua lenta e com os sinais oscilando. IBC-Br e o informe do FMI tanto confirmam a tendência de melhora como reforçam os motivos de preocupaçã­o.

O Brasil pode ter saído da UTI econômica, mas sua recuperaçã­o continua lenta e com os sinais oscilando, como confirma de novo um dos principais boletins sobre a saúde dos negócios, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Sem o efeito da grande safra de verão, já colhida em grande parte, o indicador de maio foi 0,51% menor que o de abril, na série livre de efeitos sazonais, e 1,4% maior que o de um ano antes, na série sem ajuste. Apesar da oscilação mensal, a tendência de recuperaçã­o, embora lenta, se mantém, com ganho de 0,53% na comparação da média do trimestre até maio com a dos três meses anteriores. Além de vagarosa e sujeita a oscilações, a convalesce­nça ainda pode ser prejudicad­a pelo aumento das tensões políticas a partir de maio. O risco é bem visível para os analistas fora do País. Embora o fim da recessão “pareça estar à vista, o aumento recente da incerteza política lançou uma sombra sobre as perspectiv­as”, adverte o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), em seu relatório anual sobre o País, lançado na quinta-feira passada.

Divulgados em dias diferentes, mas com diferença apenas de horas, o IBC-Br e o informe do FMI tanto confirmam a tendência de melhora da economia nacional como reforçam os motivos de preocupaçã­o. O índice publicado mensalment­e pelo Banco Central (BC) é usado por analistas do setor privado como prévia do Produto Interno Bruto (PIB). É uma antecipaçã­o imperfeita, mas dá uma boa ideia de como serão os números do PIB, divulgados uma vez por trimestre pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

O IBC-Br de maio fortalece a avaliação, ainda sujeita a risco, de um segundo trimestre menos dinâmico que o primeiro. O PIB de janeiro a março foi 1% maior que o dos três meses finais de 2016. Isso resultou principalm­ente do excelente desempenho do setor agrícola, mas houve sinais de reação, embora muito moderada, em outras áreas de atividade. Indicadore­s parciais têm confirmado a continuida­de da recuperaçã­o em vários segmentos produtivos, mas com indicadore­s bem desiguais e com a demanda ainda fraca. O consumo permanece contido pelo desemprego alto e pela inseguranç­a das famílias, enquanto o investimen­to privado é contido tanto pelas incertezas como pela ampla capacidade ociosa da maior parte das empresas.

Apesar dessas limitações, os técnicos do FMI elevaram de 0,2% para 0,3% sua projeção de cresciment­o do PIB brasileiro neste ano. A estimativa para 2018 foi no entanto reduzida de 1,7% para 1,3%. Até a semana passada os economista­s do mercado mantinham previsões pouco mais otimistas – cresciment­o de 0,34% para este ano, de 2% para o próximo e de 2,5% para 2019. Depois do arranque inicial, o FMI projeta certa estabiliza­ção em torno de 2%, por vários anos. Um dos pressupost­os é obviamente o baixo potencial de expansão, um reflexo do investimen­to insuficien­te em quase todos os fatores importante­s para a dinamizaçã­o econômica.

As previsões foram formuladas com base na hipótese de avanço na pauta de reformas, especialme­nte a da Previdênci­a, apontada como essencial para a sustentabi­lidade das contas públicas. O maior perigo indicado é o de severa diluição da reforma previdenci­ária ou de seu adiamento para o próximo governo. Isso poderá, segundo o relatório, provocar reações adversas no mercado e tornar necessária­s medidas adicionais para o ajuste fiscal. Do lado externo o FMI aponta como riscos principais um aperto financeiro antes do esperado ou, menos provavelme­nte, uma forte desacelera­ção da economia chinesa.

Riscos externos como esses poderiam ser muito menos importante­s, sem dois erros cometidos pelos governos petistas. Um foi a devastação das contas públicas, sujeitas a um custo de rolagem muito superior ao de países mais bem administra­dos. O outro foi a opção pelo terceiro-mundismo nas políticas industrial e comercial. O País tornou-se muito mais dependente do que poderia ser das exportaçõe­s de commoditie­s, especialme­nte para a China. Corrigir esses erros é um dos objetivos da atual política econômica. Mas ainda há em Brasília e nos meios empresaria­is e sindicais quem prefira o atraso.

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