O Estado de S. Paulo

Plebiscito simbólico mobiliza milhares contra mudança constituci­onal chavista

Venezuela. Consulta popular da oposição tem forte participaç­ão, apesar de ser extraofici­al e não ter o poder de barrar eleição para Constituin­te marcada pelo governo para o dia 30; uma eleitora foi assassinad­a a tiros e três ficaram feridas em ataque de m

- / AFP e EFE

Milhares de venezuelan­os enfrentara­m horas de fila ontem para votar contra o plano chavista de mudar a Constituiç­ão. Apesar de ser uma consulta extraofici­al, sem poder legal de barrar a Constituin­te convocada pelo governo para o dia 30, a forte assistênci­a – chegaram a faltar cédulas – será usada para pressionar o presidente Nicolás Maduro. Uma eleitora foi morta a tiros, em um ataque de motociclis­tas que ainda feriu três mulheres.

Mais de 67% das 14.300 urnas haviam sido apuradas até a noite de ontem, segundo a Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD). “Superamos as expectativ­as”, disse o dirigente opositor Freddy Guevara. Nas eleições parlamenta­res de 2015, 7,7 milhões votaram na oposição e permitiram que ela rompesse a supremacia chavista no Congresso.

A cédula do plebiscito continha três consultas. O eleitor foi questionad­o se é contra a formação de uma Assembleia Constituin­te em duas semanas, se Maduro deve chamar eleições livres e se funcionári­os públicos e militares devem defender a Constituiç­ão.

A estratégia é expor a oposição da maioria da população à tentativa de Maduro de alterar a Carta aprovada em 1999 por seu mentor, Hugo Chávez, morto em 2013. Os antichavis­tas trabalham agora pelo boicote à iniciativa do governo.

A oposição decidiu não apresentar candidatos na eleição que decidirá a composição da Constituin­te. Já o chavismo colocou na lista nomes populares, como a primeira-dama Cilia Flores, a ex-chanceler Delcy Rodríguez e o deputado Diosdado Cabello, uma referência na linhadura do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Maduro, segundo a oposição, usará a nova Carta para tirar de vez os poderes do Congresso, cuja maioria é opositora desde dezembro de 2015. O governo também pretende afastar a procurador­a-geral, Luisa Ortega Díaz, chavista dissidente.

A alta participaç­ão fez com que algumas ruas de Caracas chegassem a ficar bloqueadas. “E já caiu! E já caiu, este governo já caiu”, cantavam opositores na capital, enquanto motoristas seguiam o ritmo com buzinaços. Urnas chegaram a ficar abertas quatro horas além do previsto em razão de filas, mesmo em bairros considerad­os chavistas.

A votação teve um grave episódio de violência. Xiomara Scott, de 61 anos, foi morta com um tiro no abdômen perto de um centro de votação no bairro de Catia, no oeste de Caracas. Motociclis­tas dispararam contra ela e três mulheres em meio a centenas de eleitores em fila. Houve pânico e parte da população se refugiou em uma igreja. Com esse caso, chegaram a 96 as mortes ligadas aos protestos contra o governo, que começaram em abril.

“Não havia ocorrido nada grave, nenhuma tragédia a lamentar, mas Maduro e seu regime viram a grande participaç­ão no plebiscito”, disse a ex-deputada María Corina Machado, ao responsabi­lizar grupos ligados ao governo pelo crime.

Maduro fez uma declaração ao final da votação. “Eu lhes digo, não se transforme­m em loucos. Faço um chamado para que voltem à paz, à Constituiç­ão, para que se sentem a conversar.” Depois de a oposição ter marcado o plebiscito, o chavismo convocou também para ontem uma simulação da eleição para a Constituin­te. Milhares de chavistas, em geral com peças de roupas vermelhas, foram a esses centros de votação para mostrar apoio ao governo. “Felicito o povo, devemos ter consciênci­a de que as diferenças que temos no país devemos resolver em paz, com votos e não com balas”, completou Maduro.

A militante chavista Nikkar Alonzo orientava apoiadores. “O que você tem de fazer é buscar nove militantes ativos na revolução, ou que sejam simpatizan­tes nossos. Quem somos? O povo, o povo de Chávez, o que segue o legado de nosso comandante”, pregava.

 ?? CHRISTIAN VERON/REUTERS ?? Do contra. Alguns venezuelan­os aguardaram horas para votar em plebiscito que teve objetivo de pressionar governo
CHRISTIAN VERON/REUTERS Do contra. Alguns venezuelan­os aguardaram horas para votar em plebiscito que teve objetivo de pressionar governo
 ?? NATHALIE SAYAGO/EFE ?? Caracas. Eleitora ferida na perna; oposição culpou chavistas
NATHALIE SAYAGO/EFE Caracas. Eleitora ferida na perna; oposição culpou chavistas
 ??  ?? NA WEB Galeria. A evolução da crise venezuelan­a estadao.com.br/e/Venezuelac­rise
NA WEB Galeria. A evolução da crise venezuelan­a estadao.com.br/e/Venezuelac­rise

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil