O Estado de S. Paulo

LIVRO PEGA CARONA NO SUCESSO DO CHILE

Com crônicas sobre a seleção chilena e o mundo, ‘Por que amamos a bola?’ vira best-seller do país

- Paulo Beraldo

Oadvogado chileno Roberto Meléndez se recorda até hoje do dia em que sua página no Facebook, a Barrio Bravo, começou a despontar: era 24 de junho de 2015 e o Chile vencia por 1 a 0 o Uruguai pela Copa América em um jogo duríssimo. Com a vitória, os chilenos avançaram à semifinal do torneio que festejaria­m pela primeira vez na história.

Se aquela partida mudou para melhor a história do futebol chileno, também a de Meléndez teve ali seu destino alterado. Até então, sua página na rede tinha 270 pífios seguidores, a maior parte de amigos próximos. Após a publicação do texto “Tchau, Uruguai”, a página dobrou de seguidores e cresceu: hoje são quase 130 mil.

Nos últimos dois anos, após os dois inéditos títulos da Copa América, a história ganha novo capítulo: o livro ‘Por que amamos a bola?’, lançado no mês passado, se tornou best-seller do país. Um segundo e um terceiro livro estão no radar. “Também já tenho propostas do mundo audiovisua­l”, conta o autor.

Começo. Meléndez sempre gostou de futebol e de literatura, mas achava que a forma como se abordava o esporte no Chile era muito sóbria, achava que faltava ficção e humor.

Quando seu primeiro texto ganhou notoriedad­e, o ex-advogado de 32 anos apenas sentiu que era hora de tentar realizar o sonho de ser escritor. Abandonou o escritório de advocacia para dedicar-se integralme­nte aos relatos futebolíst­icos literários, o que chama de “literatura futbolera” em espanhol.

Para o agora ‘escrevinha­dor’, o futebol tem três elementos centrais que o tornam interessan­te para a literatura: “uma linguagem simples, compartilh­ada e muito emocional; não tem tempo, já que um jogo pode durar a vida toda nas conversas do povo; e tem histórias épicas, com luzes e sombras, heróis e vilões com suor e terra”, diz.

Segundo Meléndez, seu trabalho não é jornalísti­co, apesar de fazer pesquisas antes de escrever sobre qualquer tema. “Tem mais a ver com a psicologia, o emocional e a imaginação dos jogadores em campo”, explica.

Com o cresciment­o da página, a imprensa local o procurou para parcerias, mas ele recusou. Até que a multinacio­nal Penguin Random House, maior grupo editorial do mundo, o convidou para fazer um livro. “Um dia antes de assinar o contrato, saí para caminhar e pensei em tudo que estava acontecend­o, no que viria e me emocionei muito. Estava realizando um sonho”, admite Meléndez.

Livro. ‘Por que amamos a bola’ tem 34 crônicas divididas em três partes. A primeira trata do futebol internacio­nal, com textos sobre Pelé, Ronaldo, Zidane, Messi e outros destaques. Os textos de Meléndez costumam trazer não só o lado positivo, mas a miséria e o lado obscuro do futebol. Um de seus favoritos é sobre Garrincha, o Anjo de pernas tortas, pois fala da decadência dos últimos dias, com detalhes de sua vida pessoal, dos amores e dos desencanto­s do ídolo do Botafogo.

A segunda parte trata do futebol chileno, com nomes históricos como Elias Figueroa, Marcelo Salas e Iván Zamorano, além de dar destaque para os triunfos da geração atual, de Vidal, que muitos veem como a melhor da história do país de 18 milhões de habitantes. O autor também dá destaque para o futebol feminino. Na terceira e última parte, traz uma ideia social e universal do esporte.

Sobre o futuro, Meléndez seguirá escrevendo crônicas e livros, misturando “letras e esportes”, como costuma dizer. Sonha que seu livro chegue à maior quantidade de pessoas e até ao Brasil. “Seria maravilhos­o porque não há lugar no mundo mais apaixonado pela bola que o Brasil”.

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REPRODUÇÃO Best-seller. Capa do livro de Roberto Meléndez

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