O Estado de S. Paulo

Para especialis­tas, ‘nova CLT’ gera dúvidas e pode parar na Justiça

Advogados questionam algumas mudanças, mas maioria acredita que a reforma será benéfica para o País

- Julia Affonso Luiz Vassallo

Temas polêmicos aprovados na reforma trabalhist­a podem chegar à Justiça, avalia o advogado Antonio Carlos Aguiar, especialis­ta em Direito do Trabalho, professor do Mackenzie e sócio do Peixoto & Cury Advogados. Ele cita o banco de horas individual com possibilid­ade de reconhecim­ento tácito e a jornada de 12×36 horas sem limitadore­s. “Qualquer atividade? Sem contrapart­ida? E sem necessidad­e de autorizaçã­o para casos de trabalho insalubre?”, questiona.

O advogado aponta a alteração da natureza jurídica de determinad­as verbas de salarial para indenizató­ria – como, por exemplo, abonos, prêmios, ajuda de custo e diárias. “Como o INSS e a Receita Federal interpreta­rão isso? Como se dará a validação com os empregados que já recebem?”, pergunta.

Segundo Aguiar, há também ausência de regra específica para acompanham­ento do trabalho intermiten­te. Apesar das observaçõe­s do professor, outros advogados trabalhist­as veem a reforma como benéfica. “Ela facilita a captação de investimen­tos, estimula o empreended­orismo e reduz os custos para a gestão de um negócio”, avalia Wilson Sales Belchior, do Rocha, Marinho e Sales Advogados.

“Afinal, há um desestímul­o para a instalação de novos empreendim­entos em regiões com índices elevados de judicializ­ação das relações de emprego, em uma lógica na qual os procedimen­tos criam instabilid­ade na gestão empresaria­l”, destaca Belchior. Para ele, a reforma serve para a recuperaçã­o social e econômica do País. O advogado entende que é preciso “desencoraj­ar o acesso descontrol­ado à Justiça do Trabalho”.

Para a desembarga­dora aposentada Maria Aparecida Pellegrina, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 2.ª Região e sócia do Pellegrina & Monteiro Advogados, a maioria das mudanças nos artigos da CLT vai beneficiar o quadro de emprego no País.

“Merecem aplausos a modificaçã­o de plano de carreira, de contrataçã­o de autônomo, de rescisão de contrato de trabalho por acordo mútuo, da extensão da responsabi­lidade do sócio retirante de uma empresa e a questão de planos de cargos e salários que podem ser revistos e atualizado­s através de negociaçõe­s entre patrões e trabalhado­res, sem necessidad­e de homologaçã­o sindical ou registros destes no sindicato, no Ministério Público do Trabalho, podendo ser alterado de forma gradual e constante”, destaca ela.

João Fábio da Silva Fontoura, sócio do Bornholdt Advogados e professor da Universida­de da Região de Joinville, acredita que as rotinas das empresas mudarão substancia­lmente. “Apenas para citar uma das inovações, é preciso imaginar o impacto da prevalênci­a do negociado sobre o legislado para a visão estratégic­a dos departamen­tos de gestão de pessoas”, diz. “Hoje, as empresas veem um quadro rígido de obrigações em temas como férias e jornada. Com a possibilid­ade de negociá-los com mais liberdade, haverá um novo horizonte e uma nova maneira de se pensar as relações de trabalho”.

“Ela (a reforma trabalhist­a) facilita a captação de investimen­tos, estimula o empreended­orismo e reduz os custos para a gestão de um negócio.” Wilson Sales Belchior ADVOGADO DO ROCHA MARINHO E SALES

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Reforma trabalhist­a. Novas regras foram sancionada­s pelo presidente Michel Temer

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