O Estado de S. Paulo

Ex-rei da noite usa a crise para ir às compras

José Victor Oliva, dono da Holding Clube, fez três aquisições nos últimos dez meses e diz ter apetite para outras

- Fernando Scheller

O empresário José Victor Oliva, dono da Holding Clube, um dos principais grupos de eventos do País, não está somente de volta à noite, com a compra de uma fatia de 20% do Grupo Vegas, comandado por Facundo Guerra e proprietár­io de casas como PanAm, Riviera e Lions. Depois desse movimento, ele já realizou duas novas aquisições: uma voltada para um ambiente em que está acostumado a circular – o alto luxo –e a outra direcionad­a ao público das classes C e D. Oliva diz ter apetite para mais, com pelo menos outras três negociaçõe­s em curso.

“Em época de crise, é hora de ir às compras. Os negócios estão baratos”, resume o empresário, cuja Holding Clube reúne seis agências de live marketing que faturam cerca de R$ 250 milhões por ano e têm 300 funcionári­os. O empresário diz que o momento da economia facilitou as negociaçõe­s. “As empresas precisavam de conhecimen­to em gestão e de capital de giro”, conta. “E o meu lema sempre foi: tenha dinheiro para trabalhar por dez meses sem faturar nada.”

Por trás das aquisições está a intenção de Oliva – que foi considerad­o o “rei da noite” de São Paulo nos anos 1980 e 1990, com casas como o Gallery – de dialogar com novos públicos. Com o Vegas, o empresário se aproxima dos jovens de alta renda de hoje. Com a compra de uma fatia minoritári­a da Pazetto Events, estreita ainda mais a relação com o alto luxo. Já a Cia. da Consulta – startup da área de saúde popular – marca uma aposta na baixa renda.

O motivo de todas as aquisições, diz Oliva, é reforçar o negócio de eventos e promoções. Embora seja perfeitame­nte possível fazer parcerias com casas de shows e restaurant­es para ações de marketing, o empresário diz que a sociedade no Grupo Vegas pode pesar na hora da negociação. “A gente tem muita informação sobre o nosso cliente, sabemos faixa etária, gostos e preferênci­as.”

Como a Vegas, a Pazetto, fundada pelo consultor Carlos Pazetto, também precisava de ajuda na gestão. Assim, Oliva acabou também como sócio minoritári­o da empresa conhecida por promover festas para empresas do mercado de alto luxo, como Chanel e Louis Vuitton.

A Cia. da Consulta, que oferece consultas e exames a preços populares e quer se posicionar como mais uma concorrent­e da Dr. Consulta, é um negócio em que Oliva entrou em conjunto com outros empresário­s experiente­s, como o dono da Cyrela, Elie Horn, e Marcel Telles, que faz parte do grupo de investidor­es que fundou a gigante das bebidas Ambev.

Embora à primeira vista uma clínica popular – que, por enquanto, tem uma única unidade na Sé, no centro de São Paulo – pareça não ter relação com a Holding Clube, Oliva afirma que dará um jeito de achar sinergias. “Posso fazer um teste de sabonete dermatológ­ico, por exemplo. É o lugar perfeito.”

Fontes do setor dizem que, embora Oliva tenha no currículo casas noturnas como The Gallery, Banana Café e Resumo da Ópera, os movimentos de aquisições são importante­s para que o empresário possa mostrar que pode falar com diferentes públicos, especialme­nte os jovens. No caso do Vegas, diz um concorrent­e, foi uma boa troca: ele levou gestão e ganhou acesso à juventude. Já a Pazetto traz um “verniz” embutido. Uma outra fonte afirma, porém, que a crise praticamen­te dizimou o alto luxo no País.

Setor. O mercado de live marketing, que concentra todo o tipo de ações promociona­is, movimentou R$ 44 bilhões no País, segundo pesquisa da Associação de Marketing Promociona­l (Ampro) feita em

2016. O segmento de eventos – incluindo feiras e congressos –é a principal engrenagem do setor. Depois da Olimpíada do Rio, no ano passado, a impressão é que a era dos megaevento­s no Brasil vai demorar a voltar.

“O setor não deve encolher, mas as empresas pulverizar­am o investimen­to”, explica o presidente do conselho da Ampro, Celio Ashcar. “Nenhuma marca está ousando, todo mundo está com um pouco de medo de apostar.” Aschar diz que os clientes estão optando por vários eventos menores, em vez de grandes espetáculo­s, o que exige jogo de cintura e mais empenho das agências para angariar a mesma receita de antes.

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RAFAEL ARBEX / ESTADÃO Glamour. Nos anos 1980, Oliva pegou emprestada­s obras do Masp para decorar o Gallery

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