Turistas ficam ‘presos’ em Bariloche após nevasca
Aeroporto funciona de forma intermitente desde sexta, barrando saída de famílias brasileiras; local registrou menor temperatura em 50 anos
Um dos destinos preferidos dos brasileiros em julho, Bariloche, na Argentina, registrou -25,4ºC no domingo, a menor temperatura dos últimos 50 anos. Uma tempestade de neve fez com que voos fossem cancelados e afetou também os serviços turísticos da região. Viajantes brasileiros ficaram presos no aeroporto e reclamaram das companhias aéreas, que não estariam dando o suporte necessário em terra. A operação foi parcialmente normalizada ontem.
Após um fim de semana de nevasca em Bariloche, turistas enfrentaram dificuldades para sair ou chegar ao destino turístico argentino, um dos mais tradicionais para brasileiros no inverno. O pequeno aeroporto local fechou entre a manhã e o meio da tarde de ontem. Na sexta-feira, ele já havia suspenso as operações e só reabriu no domingo, quando a cidade registrou a menor temperatura dos últimos 50 anos (-25,4 °C).
Ontem, um incidente com um avião particular no aeroporto também contribuiu para a confusão e, mesmo após a retomada das operações, voos saíam com atrasos. A tempestade de neve, a maior na região em 27 anos, ainda causou queda de energia elétrica e bloqueio de estradas de acesso. Na alta temporada, em julho, Bariloche costuma atrair cerca de 30 mil turistas de férias. O local recebe quatro voos semanais vindos diretamente do Brasil e outros 33 de Buenos Aires.
A obstetra Liduína Rocha, do Ceará, é uma das que viram o encanto pela neve se tornar pesadelo. Desde sexta-feira até ontem à tarde, ela tinha dificuldades para embarcar no aeroporto. “Somos muitos aqui. Meu marido estava com o grupo, tentando fazer um protesto. Estamos organizando um ônibus para irmos para Buenos Aires”, desabafou.
A principal queixa é sobre a negligência de empresas aéreas, que não estariam dando suporte necessário aos passageiros. “Hoje (ontem) há cerração e não é seguro voar. Mas o fato de não voar deveria implicar em cuidados com passageiros em terra e não há nenhum tipo de suporte”, disse ela, com passagens para um voo da Latam.
Ainda segundo a turista brasileira, após horas de espera por resposta da companhia aérea, ela e a família decidiram buscar hotel por conta própria. “Voltamos sábado e ficamos até a noite, quando todos os voos foram cancelados! Consegui um apartamento por dois dias”, relatou.
A companhia, diz ela, não ofereceu ajuda para custear as diárias extras. “Não há plano de contingenciamento da companhia
área. Estamos com os filhos aqui, já estamos no limite.”
Autoridades de turismo negociaram com hotéis a oferta de 110 quartos para passageiros com voos alterados a preços especiais. Grupos também levaram lanches a turistas presos no aeroporto e na rodoviária.
Caos. Já a representante de vendas Fernanda Passos, de 41 anos, teve melhor sorte do que Liduína. Ela conseguiu embarcar de volta para o Brasil com um bilhete feito à mão pela empresa aérea. Após mais dois remanejamentos em seu horário de voo, a confusão era tanta que não foi possível imprimir outra vez a sua passagem de volta. “Estava absolutamente lotado e sem estrutura nenhuma, lembrando mais uma rodoviária. Famílias tiveram de dormir lá e também idosos.”
Fernanda estava há uma semana na cidade e disse que já havia previsão para intensificação do frio, mas não a ponto de uma nevasca histórica. A massa de ar polar vem do sul do continente e havia causado uma forte nevasca em Santiago no fim de semana. “Mas ninguém previu que seria tão pesada quanto está sendo, afetando até o fornecimento de luz em Bariloche”, contou. Ela conseguiu embarcar de volta para o País na noite de anteontem.
A espera da família do administrador José Saez Neto, de 63 anos, se estendeu da tarde da sexta-feira até a madrugada de ontem, quando conseguiu voar para o Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Depois, foi para Curitiba, seu destino final. “Nunca imaginava passar por isso e não dá para pensar em voltar diante da falta de estrutura. O pessoal operacional estava perdido. Não queríamos mordomia, só queríamos informação sobre o que estava ocorrendo.”
Em nota, a Latam lamentou “possíveis inconvenientes que esta situação, alheia a sua vontade, possa provocar e está oferecendo alternativas” aos clientes afetados. Reiterou ainda compromisso com a segurança, a qualidade e as regras de assistência a passageiros. A previsão é de que o tempo em Bariloche melhore nos próximos dias.
Sul. Após o fim de semana de tempo mais ameno, quatro cidades gaúchas – incluindo Canela e Gramado –, e três catarinenses tiveram neve, o que não deve repetir-se hoje. / COLABORARAM LUIZ FERNANDO TOLEDO e LUCIANO NAGEL, ESPECIAL PARA O ESTADO