O Estado de S. Paulo

Governo deve suspender liberação de R$ 4 bilhões

Contas públicas. Equipe econômica cogitava, no início do mês, liberar recursos para garantir a prestação de serviços essenciais, afetados pelo corte de R$ 39 bi no Orçamento, mas deve descartar medida porque a arrecadaçã­o está abaixo do esperado

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli /

A equipe econômica praticamen­te descartou a possibilid­ade de liberar R$ 4 bilhões, até o final do mês, para atender os órgãos com maior dificuldad­e em prestar os serviços públicos. A arrecadaçã­o prevista deve ficar abaixo do esperado com as mudanças feitas, na Câmara, na MP do Refis e a baixa adesão à segunda fase do programa de repatriaçã­o de recursos no exterior.

A equipe econômica praticamen­te descartou a possibilid­ade de liberar mais R$ 4 bilhões, até o final do mês, para atender aos órgãos com maior dificuldad­e em prestar serviços públicos. No início de julho, quando o problema de escassez de recursos ficou evidente – até a emissão de passaporte­s foi suspensa –, o governo cogitou a liberação de recursos para garantir serviços essenciais. A restrição fiscal tem atingido diversos ministério­s, diante do corte de R$ 39 bilhões em despesas ainda em vigor.

O governo tem constatado, no entanto, que a arrecadaçã­o prevista deve ficar bem abaixo do esperado. Inicialmen­te, a equipe econômica previa arrecadar R$ 13,3 bilhões neste ano com o novo programa de parcelamen­to de débitos tributário­s, o Refis. Mas na semana passada foi surpreendi­da com uma série de mudanças feitas pelo deputado Newton Cardoso Junior (PMDB-MG), reduzindo a estimativa de ingresso de receitas para R$ 420 milhões em 2017. Se todas as mudanças forem aprovadas pelos plenários da Câmara e do Senado, o Ministério da Fazenda vai recomendar o veto da medida, mas até lá não pode contar com esses recursos. O Tribunal de Contas da União (TCU) já alertou para os riscos de estouro da meta fiscal.

A segunda fase do programa de repatriaçã­o de recursos não declarados ao exterior também está decepciona­ndo. O prazo de adesão termina no fim do mês e a arrecadaçã­o até agora foi “irrisória”, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Além desses dois reveses não esperados, o governo terá de registrar uma previsão menor de arrecadaçã­o de tributos até o fim do ano, que continua decepciona­ndo.

Diante de tudo isso, não está descartada a possibilid­ade de um novo corte do Orçamento – uma situação extrema, já que o contingenc­iamento em vigor tem estrangula­do o funcioname­nto da máquina em muitos órgãos.

A outra opção no radar é elevar tributos, mas o presidente Michel Temer tem dificuldad­e em levar adiante uma medida desse tipo com o cenário de crise política. Uma das possibilid­ades é a tributação do PIS e Cofins sobre combustíve­is.

O aumento da arrecadaçã­o com o resgate de precatório­s de R$ 8,6 bilhões para R$ 12 bilhões não está sendo suficiente para abarcar a perda de receitas. O governo terá ainda de retirar a expectativ­a de ingresso de recursos com a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Caixa Seguridade. Também deve excluir a previsão de receita de R$ 2,2 bilhões neste ano com o fim da desoneraçã­o da folha de pagamento para 50 setores, uma vez que o Congresso adiou a medida para 2018.

O ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, admitiu ontem que as mudanças no Refis podem prejudicar eventual perspectiv­a de reversão de parte do corte de R$ 39 bilhões. “Essas questões efetivamen­te prejudicam a possibilid­ade de haver alguma liberação”, acrescento­u. Casa Civil e Ministério da Fazenda não se manifestar­am.

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