O Estado de S. Paulo

Polícia descobre grampo na Corregedor­ia

Espionagem. Oficiais trabalhava­m na assessoria militar do Ministério Público Estadual (MPE); promotora que passou informação aos PMs também deixou de assessorar o procurador-geral; inquérito foi aberto para tentar descobrir autor da escuta clandestin­a

- Marcelo Godoy

Dois capitães da PM que atuavam na Assessoria Militar do Ministério Público e uma promotora foram afastados depois da descoberta de uma escuta clandestin­a na Corregedor­ia da Polícia Civil, informa Marcelo Godoy.

A descoberta de uma escuta ambiental clandestin­a dentro da Corregedor­ia da Polícia Civil levou ao afastament­o de dois capitães da Polícia Militar que trabalhava­m na Assessoria Militar do Ministério Público Estadual (MPE). Um inquérito foi aberto por ordem do delegado Domingos Paulo Neto, diretor da Corregedor­ia. Oficialmen­te, os oficiais foram afastados porque teriam conhecimen­to da escuta desde abril, mas só informaram os superiores dois meses depois.

Uma promotora de Justiça, que havia passado a informação sobre o grampo aos capitães, também deixou de assessorar o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, após a descoberta do caso. A escuta estava em uma sala da Divisão de Operações Policiais (DOP) da Corregedor­ia. Ela funcionari­a como uma espécie de telefone celular.

O responsáve­l pelo grampo ilegal podia acioná-la ligando para o aparelho e, assim, escutar tudo o que era conversado dentro da sala. A DOP é responsáve­l pelo planejamen­to e execução de operações que investigam a corrupção de policiais civis. Quando uma vítima de policiais corruptos procura a Corregedor­ia, são os homens da DOP que vão verificar a denúncia e efetuar a prisão dos acusados.

Apesar de os capitães da PM terem conhecimen­to do fato desde o fim de abril, só no meio de junho é que a Corregedor­ia da Polícia Civil foi informada sobre o caso pelo MPE. Nem Domingos ou o delegado-geral Youssef Abou Chahin sabiam de nada. Na semana passada, o procurador-geral de Justiça se reuniu com Domingos na sede da Corregedor­ia. Oficialmen­te, foi uma visita de cortesia do procurador-geral. Smanio determinou a saída dos capitães da assessoria militar do MPE, que fornece homens para auxiliar no trabalho de grupos que combatem o crime organizado.

Os capitães alegaram que receberam a informação sobre a existência do grampo de uma promotora e contaram para seus chefes que estavam tentando levantar a lista de números de telefones que haviam acionado a escuta clandestin­a para, assim, tentar localizar os responsáve­is pela escuta. Quase dois meses depois de iniciado o “serviço”, eles ainda não teriam chegado aos autores do crime.

Foi quando o promotor Levy Emanuel Magno, coordenado­r do Centro de Apoio Operaciona­l às Promotoria­s Criminais (CAO Criminal), soube do caso e procurou a Corregedor­ia para informá-la sobre o grampo.

Integrante­s do MPE e a cúpula das Polícias Civil e Militar temem que o caso possa servir para aumentar as disputas entre as instituiçõ­es, alimentand­o a desconfian­ça entre seus integrante­s. A ordem é tratar com discrição o escândalo da escuta. Até agora, as investigaç­ões da Corregedor­ia não conseguira­m determinar quem e por que teria plantado a escuta na DOP.

No dia 5, a Corregedor­ia e o MPE fizeram uma operação que levou à prisão de 22 acusados de dar proteção a bingos. Entre os acusados estavam um coronel aposentado e outros 11 policiais, entre eles um investigad­or da Corregedor­ia. Em 2015, policiais corregedor­es foram acusados de montar um esquema – o mensalão da Corregedor­ia – que cobrava propina de policiais corruptos.

Silêncio. O Estado procurou a assessoria do MPE, que informou que não ia se manifestar sobre o caso. Ela confirmou que foi por iniciativa do órgão que a Corregedor­ia da Polícia Civil acabou informada sobre a existência da escuta clandestin­a. De acordo ainda com a assessoria, nenhum integrante do MPE é investigad­o no caso nem o caso é apurado pelo órgão.

O Estado também procurou o delegado-geral e o comandante-geral da PM, coronel Nivaldo Restivo, mas nenhum deles quis manifestar-se sobre o caso d a escuta clandestin­a.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO -19/12/2015 Corregedor­ia. Escuta estava na Divisão de Operações Policiais e era conhecida desde abril

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