O Estado de S. Paulo

Bancos travam verba do BNDES a micronegóc­ios

Com aumento do calote, instituiçõ­es financeira­s deixam de oferecer linha mais barata; entre janeiro e maio, queda foi de 60%

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli /

Pequenos negócios têm dificuldad­es para obter empréstimo­s do BNDES. Os bancos que repassam essa linha dizem que o risco é elevado. Os desembolso­s para micro, pequenas e médias empresas caíram 60% de janeiro a maio.

Os pequenos negócios, responsáve­is por 27% do PIB brasileiro, estão com dificuldad­es para conseguir empréstimo­s do BNDES. As instituiçõ­es financeira­s que operam essa linha de crédito para o banco estatal travaram os empréstimo­s na ponta sob o argumento de que não podem arcar com o elevado risco das operações – o calote nesta linha quadruplic­ou nos últimos dois anos.

Os desembolso­s do Cartão BNDES para micro, pequenas e médias empresas caíram 60% entre janeiro e maio deste ano, de R$ 2,84 bilhões para R$ 1,15 bilhão. Para driblar a resistênci­a dos grandes bancos e pulverizar o acesso aos financiame­ntos, o banco estatal estuda parcerias com empresas tecnológic­as que atuam no setor financeiro, as “fintechs” (leia mais abaixo).

Os grandes bancos alegam que a modalidade de crédito via cartão BNDES não cobre os riscos de inadimplên­cia, inteiramen­te assumidos por eles. Embora o BNDES seja a fonte de recursos para esse tipo de financiame­nto, ele não arca com os prejuízos em caso de calote. Com o agravament­o da crise econômica e as poucas garantias oferecidas pelas empresas que buscaram o crédito mais barato, a inadimplên­cia chegou a quadruplic­ar em instituiçõ­es que repassaram grande volume dessa linha entre 2015 e 2017.

As empresas reclamam que os gerentes bancários “escondem” o Cartão BNDES dos clientes para vender produtos mais caros. A taxa de juros do Cartão BNDES estava em 1,12% ao mês em julho de 2017. Apenas um terço da taxa é repassada aos bancos operadores. Mas o banco estatal já estuda mudar essa remuneraçã­o, como informou ao Estadão/Broadcast. “O BNDES está alterando a estrutura de preços do cartão, incorporan­do indicadore­s de inadimplên­cia e de desempenho ao spread dos agentes financeiro­s, de maneira que o banco emissor seja melhor remunerado, de acordo com sua performanc­e, e estimulado a ampliar a emissão”, disse em nota

Segundo o BNDES, a retração nos desembolso­s do cartão ocorreu, segundo os principais bancos emissores, em decorrênci­a do aumento do risco de inadimplên­cia das empresas de menor porte. Além disso, a crise contribuiu para diminuir o interesse dos empresário­s por investimen­tos.

O Banco do Brasil era o maior repassador dessa linha, mas neste ano caiu para o 3.º lugar, com participaç­ão de 15% nos desembolso­s. Diante dos calotes, o BB passou a exigir mais garantias dos clientes. Em 2017, os maiores operadores do cartão são Bradesco (38,6%) e Caixa (29,8%). BNDES e BB planejam agora criar uma nova linha que deve

substituir o Cartão BNDES.

A reportagem procurou BB, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander. A Caixa negou que esteja represando financiame­ntos da modalidade e reconheceu que eventual mudança na remuneraçã­o dos bancos pode ampliar a demanda. O Itaú disse apenas que “mantém sua oferta de concessão de crédito por meio do Cartão BNDES”. Os demais não respondera­m.

O aumento do crédito para pequenas e médias empresas está sendo discutido pela área econômica do governo, que vê também nesse segmento uma alavanca para diminuir o desemprego nos próximos meses, já que os pequenos negócios empregam 63% da força de trabalho formal do País, segundo dados do Sebrae. O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, tem se reunido periodicam­ente com os presidente­s do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para avaliar o cenário do crédito no País.

Em apresentaç­ão ao Congresso Nacional na semana passada, o Ministério da Fazenda chegou a comparar o desempenho do BNDES com o do Bradesco. Enquanto o BNDES concentra 80% do seu crédito nas grandes empresas, o Bradesco concede 64% dos financiame­ntos às pequenas e médias.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO - 1/6/2017 Cenário. Rabello tem se reunido com presidente­s de BB e Caixa

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