Janot diz não ter pressa
Em palestra nos EUA, procurador-geral afirma que vai cumprir seu ofício até entregar o cargo, em setembro, e defende delações
Nos EUA, onde participa de eventos, o procurador Rodrigo Janot disse que “não tem pressa” para apresentar nova denúncia contra Temer e, sem citar nomes, que “ninguém se sente feliz concedendo imunidade a criminoso”.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou ontem que “não tem pressa” em apresentar uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer. A declaração foi dada em Washington, onde Janot participa, até amanhã, de eventos e encontros na capital americana.
“Se até o último dia do meu mandato houver provas não vou deixar de cumprir meu ofício e vou apresentar uma nova denúncia”, disse Janot, que, em junho, denunciou Temer pelo crime de corrupção passiva com base na delação premiada do Grupo J&F. É esta a denúncia que será analisada pela Câmara, no dia 2 de agosto, quando os deputados vão decidir se autorizam ou não a abertura de ação contra o presidente. Se o processo for autorizado, o caso vai para o Supremo Tribunal Federal e Temer pode ser afastado do cargo por até 180 dias.
Ontem, Janot foi um dos palestrantes em um painel sobre o papel dos acordos de colaboração no combate à corrupção. O evento foi promovido pelo Brazil Institute, que integra o Wilson Center e fomenta debates sobre temas que envolvam questões bilaterais entre Brasil e Estados Unidos.
Na palestra, o procurador-geral disse que o Ministério Público “não tem pressa nem retarda denúncia”, o que depende, segundo ele, é a investigação. Janot afirmou ainda que aceitaria com “naturalidade” uma rejeição da Câmara da primeira denúncia contra Temer.
“Como eu vou aceitar a decisão da Câmara? Com a maior naturalidade possível. Eu fiz o meu trabalho. Cada um faz o seu. O meu trabalho está feito. Eu não vou insistir nessa denúncia, porque eu não tenho como, tecnicamente, insistir nessa denúncia. A denúncia está oferecida, os fatos estão descritos. Tem uma narrativa lógica, os indícios de prova estão apontados. Entendo existir autoria e materialidade. Não autorizou o processamento, ela fica suspensa.”
Janot disse que vai continuar fazendo seu trabalho até 15 de setembro, seu último dia na Procuradoria antes de passar o comando do Ministério Público para sua sucessora, Raquel Dodge, já foi nomeada por Temer.
“Eu vou fazer o meu trabalho, como fiz até agora. Se alguma investigação chegar, estiver madura até 15 de setembro, ofereço a denúncia. Como se não estiver madura, porque não se obteve nada, peço arquivamento. Fico aguardando a troca de bastão na Procuradoria-Geral da República para o prosseguimento dela”, afirmou Janot.
Imunidade. O procurador-geral também falou sobre o que chamou
de “a grande polêmica que se tem hoje no Brasil, a concessão de imunidade a pessoas ricas que moram aqui em Nova York”. Sem mencionar nomes, Janot afirmou que “ninguém se sente feliz concedendo imunidade a criminoso, ninguém gosta disso”, em referência ao acordo de delação premiada dos executivos do Grupo J&F, que controla a JBS, entre os quais os irmãos Joesley e Wesley Batista.
“Essas pessoas procuraram agentes do Ministério Público para oferecer a possibilidade de um acordo penal e envolviam altíssimas autoridades da República. A primeira reação nossa foi dizer que isso era mentira. Depois de três anos e meio de Lava Jato, é inacreditável que a prática continue de maneira aberta. Nos foram apresentados takes de gravações, de uma gravação bem maior em que realmente se comprovava o envolvimento desses altos dignatários da República em cometimento de crime”, disse Janot. “Sopesei o interesse público.”
Hoje, o procurador-geral terá reunião no Escritório de Assuntos Internacionais de Narcóticos e Aplicação da Lei e visitará a Suprema Corte dos Estados Unidos. / COLABORARAM JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO e LUIZ VASSALLO