O Estado de S. Paulo

Oposição marca greve geral contra Maduro

Pressão. Após levar 7 milhões às urnas em plebiscito informal, opositores venezuelan­os recebem apoio de EUA, União Europeia e Brasil, que pediram o cancelamen­to da Assembleia Constituin­te; Colômbia quer envolver Raúl Castro em solução negociada para crise

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Um dia depois de mobilizar 7 milhões de pessoas em um plebiscito informal contra a Assembleia Constituin­te convocada pelo chavismo, a coalizão opositora venezuelan­a Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD) convocou uma greve geral para quinta-feira e anunciou a formação de um governo paralelo. Os opositores receberam apoio externo, incluindo pressão por sanções ao governo de Nicolás Maduro.

EUA, União Europeia e o Brasil defenderam o cancelamen­to da Constituin­te marcada para o dia 30, o objetivo mais urgente da oposição. O presidente americano, Donald Trump, ameaçou adotar duras sanções econômicas se Maduro levar adiante seu projeto de Assembleia Constituin­te. “Os EUA não ficarão passivos enquanto a Venezuela desmorona”, disse.

Os antichavis­tas também prometeram nomear juízes da Suprema Corte à revelia do governo e a criação um “governo de unidade alternativ­o”.

“No geral é uma estratégia bastante radical, especialme­nte a ideia de criar um governo paralelo”, disse o professor David Smilde, da Universida­de de Tulane. O analista ressaltou que se a greve for bem sucedida o governo pode fazer alguma concessão. Na semana passada, o chavismo transferiu o líder opositor Leopoldo López para prisão domiciliar.

A crise política na Venezuela, que é acompanhad­a por uma grave crise econômica, agravou-se em abril quando milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra uma decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) de anular os poderes do Parlamento, revertida dias depois. Desde então, 96 pessoas morreram em episódios ligados aos protestos, 1,5 mil ficaram feridas e 500 foram presas.

“Temos de aprofundar o movimento nas ruas”, disse o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges. “Vamos cruzar os braços na quinta-feira a nível nacional por 24 horas e nos preparar para a semana final de combate à fraude, para restaurar a ordem constituci­onal.”

No fim de semana, 7,6 milhões de venezuelan­os votaram num plebiscito informal organizado pela MUD para rechaçar o projeto de uma nova Constituiç­ão defendido por Maduro – o país tem 15 milhões de eleitores habilitado­s na última votação organizada pela Justiça eleitoral, em 2015. Não havia lista de votação ou controle sobre a participaç­ão dos eleitores.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, quer envolver o líder cubano Raúl Castro em uma solução negociada para o impasse político. O Brasil (mais informaçõe­s nesta página) e a União Europeia pediram que Caracas cancele a Assembleia Nacional Constituin­te, medida também defendida pelos EUA. Outros países da região, como o México e o Paraguai, emitiram comunicado­s similares.

Maduro reagiu às tentativas

de dissuadi-lo de mudar a Constituiç­ão. Ele chamou de “insolente” a chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini, e recorreu à estratégia de denunciar neocolonia­lismo. “Acha que estamos em 1809? Quando recebíamos ordens dos impérios europeus. Venezuela é um país livre, soberano e ninguém nos dá ordens.”

O governo espanhol sugeriu

que a UE debata sanções ao chavismo caso a Assembleia seja levada adiante, mas Bruxelas, por ora, descarta a iniciativa. O presidente venezuelan­o insistiu que os candidatos à Constituin­te serão eleitos no dia 30 e criticou o premiê espanhol, Mariano Rajoy, um dos que exaltaram a legitimida­de do plebiscito opositor.

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ARIANA CUBILLOS/AP Apoio. Opositores celebram resultado de plebiscito

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