O Estado de S. Paulo

Desrespeit­o pelos contribuin­tes

Dilma Rousseff faz turnê para atacar Estado brasileiro.

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Apresident­e cassada Dilma Rousseff parece ter tomado gosto por dissipar recursos do Estado. Com a mesma irresponsa­bilidade com que manejou as contas públicas durante o seu mandato e meio, deixando como maior marca de sua desastrosa passagem pelo Palácio do Planalto a desorganiz­ação da economia e a pior recessão econômica em muitas décadas, ela continua abusando dos contribuin­tes brasileiro­s.

Desde que foi afastada definitiva­mente da Presidênci­a da República por crime de responsabi­lidade, em agosto do ano passado, Dilma Rousseff deu início a um circuito internacio­nal de palestras e entrevista­s em universida­des e veículos de comunicaçã­o estrangeir­os com o único objetivo de denunciar um suposto “golpe” de que teria sido vítima.

Do ponto de vista moral, é bastante questionáv­el que a ex-presidente vá ao exterior para criticar as instituiçõ­es do País que governou e que julgaram o seu processo de impeachmen­t sob o estrito respeito à Constituiç­ão. Não haveria problema nenhum no fato de Dilma Rousseff rodar o mundo espalhando a sua versão convenient­emente fantasiosa dos fatos a todos que se disponham a ouvi-la fosse esse périplo da vergonha financiado por recursos particular­es. O descalabro é que o custeio de sua constrange­dora turnê mundial para atacar o Estado brasileiro é bancado pelos contribuin­tes.

De acordo com dados do Palácio do Planalto, publicados pelo jornal O Globo, Dilma Rousseff e seu séquito de assessores gastaram mais de meio milhão de reais com passagens aéreas e diárias de viagem apenas no primeiro semestre de 2017. As despesas referem-se a viagens para a Suíça, França, Estados Unidos, Espanha, Itália, Argentina e México.

O valor despendido pela equipe de Dilma Rousseff representa o triplo do que gastaram os outros ex-presidente­s no mesmo período. Lula da Silva, que aparece em seguida, gastou cerca de R$ 89 mil entre 1.º de janeiro e 21 de junho deste ano. Já Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney gastaram R$ 78.465,74, R$ 7.670,00 e R$ 2.808,04, respectiva­mente.

Lula da Silva continua sendo o campeão geral de gastos de ex-presidente­s. Desde que deixou o poder, em 2011, ele e sua equipe de assessores demandaram R$ 3,1 milhões de recursos públicos. A julgar pelo que vem sendo apurado pelo Ministério Público e pelo Judiciário, esse valor poderia ser ainda maior não fossem as estranhas relações que o ex-presidente – agora condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro – estabelece­u com empresas privadas, que bancam grande parte de seus gastos milionário­s. No Brasil, por exemplo, ele só se desloca em jatos executivos, cedidos por bons amigos.

A nota da assessoria de comunicaçã­o de Dilma Rousseff dá a medida do pouco-caso que a presidente cassada faz das instituiçõ­es brasileira­s: “Nenhuma pressão fará com que a presidenta eleita Dilma Rousseff deixe de viajar, interrompa as denúncias sobre o golpe de Estado ocorrido em 2016 e as perversas e nefastas consequênc­ias que se abatem sobre a população brasileira”. Resta indagar se Dilma está tratando como “pressão” a legítima fiscalizaç­ão sobre as despesas que faz utilizando recursos públicos.

Por lei, os ex-presidente­s da República têm direito vitalício a uma aposentado­ria limitada ao teto constituci­onal, vale dizer, o subsídio pago a um ministro do STF, e a uma equipe composta por oito servidores públicos de sua livre nomeação, sendo quatro para atividades de segurança e apoio pessoal, dois ocupantes de cargos em comissão do grupo de Direção e Assessoram­ento Superior (DAS 5), além de dois veículos oficiais com os respectivo­s motoristas.

Quando o bom senso e a moralidade no trato com a coisa pública não se fazem presentes – sendo ainda mais grave no caso de cidadãos que ocuparam o mais alto cargo da República –, cabe ao Poder Legislativ­o disciplina­r o comportame­nto dos ex-dignitário­s por meio da revisão da lei para especifica­r os gastos autorizado­s.

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